Ouvindo toda a gente falar de “dívida soberana”, e não percebendo muito bem a razão do adjectivo no contexto em causa, dirigi-me ao dicionário do grande Pedro Machado, e, selecionando o que me pareceu mais ajustado, li: decisivo; supremo; que atinge o mais alto grau.
Sendo assim, o adjectivo liga com a dívida do país que nem o vermelho com o fogo e o inferno. De facto, pelo que dizem, o débito do país atingiu o seu “mais alto grau” de sempre e tornou-se “supremo” na quantidade e “decisivo” para a nossa própria sobrevivência nacional.
A propósito desta dívida, e ouvindo os que vêm administrando o país desculpar-se com a crise internacional, mesmo que me esforce por isso, não consigo aceitar tal desculpa. Há países na Europa, mais pequenos e mais pobres do que nós, com as contas estabilizadas, e a viver “sem vergonha do mundo”! Infelizmente, não é esse o nosso caso: para além de há muito andarmos de mão estendida a pedir a estranhos que nos acudam, a pagar juros altíssimos a credores que nos exploram despudoradamente por não acreditarem em nós, a ajoelhar-nos diante de “tróikas” que nos entram em casa a correr todos os cantos a ver se nos “metem na ordem”, estamos a hipotecar o futuro das novas gerações: se não arrepiarmos caminho, por mais que poupem e trabalhem, os nossos filhos e netos mal vão conseguir pagar os juros quanto mais a dívida “soberana” que nós lhes arranjamos.
Para mim, a causa da crise e da dívida encontra-se sobretudo na irresponsabilidade, no oportunismo e no facilitismo costumeiro de grande parte dos portugueses, nos escandalosos vencimentos e mordomias incomportáveis de políticos, administradores e funcionários públicos, nas obras sumptuárias que não podíamos fazer mas de que sempre gostamos para deixarmos a nossa marca, e, sobretudo, no desgoverno do país e da nação por parte daqueles que aceitaram e pediram o encargo de o governar e administrar.
Membros da Comunidade Europeia e enfeitiçados com os euros, fáceis e abundantes, imaginámo-nos no paraíso terreal e passamos a viver “à grande e à francesa”: gastando muito, trabalhando pouco, esperando e exigindo que o Estado nos dê tudo, e não poupando nada. E quem nos tem governado nos últimos tempos…ou andou de olhos fechados e não viu a tempo e horas o plano inclinado em que descíamos perigosamente, ou não teve coragem de tomar as decisões de contenção que se exigiam e esperavam, na hora certa. Eles são os grandes responsáveis pelo que nos está agora a acontecer. Era bom que não se deitassem de fora. O eleitoralismo, as clientelas políticas e as ambições do poder - um mal infelizmente necessário em democracia - talvez possam explicar-nos muitas coisas!...
Indo ao baú da minha memória, pergunto-me: “onde é que eu já vi isto”? Sim, já me recordo: não vi, mas li. A democracia regressou ao país em 1974 e a história repetiu-se. Não foi assim na I República? Enquanto os partidos políticos se entretinham com as suas querelas, discutindo e esbanjando, o povo vivia na pobreza e na miséria. A juntar a tudo, a peste, a fome, a guerra, a bancarrota e o descrédito internacional.
Não foi nesse transe que Nossa Senhora desceu a Fátima? Não foi ela que, através dos pastorinhos, disse que rezássemos o terço todos os dias para alcançarmos a paz e o pão, e para acabar a guerra, a peste e a miséria? Alguém me disse que “dívida soberana” significava “dívida nacional”. Sim, mas que soberania é a de um país que deve o que tem e o que não tem, que consome o que não produz, e se ajoelha diante dos outros à espera de uma esmola ou de um empréstimo? Esta dívida soberana e esta crise nacional só podem encontrar remédio em outras soberanias que faltam há muito neste nosso país tão rico de sol, de mar e de poemas. A democracia e a liberdade são valores muito belos e muito agradáveis, mas não chegam. O que nos faz mesmo falta é uma educação soberana, uma justiça soberana, uma responsabilidade soberana, uma soberana vontade de trabalhar…e sobretudo uma Soberana e Confiante Fé em Deus. Estamos no Mês de Maria. Um grupo de jovens do país lançou agora a campanha de “um milhão de terços diários” para salvar a Nação. Já que os que haviam de rezar também, não rezam…porque não sabem, porque não querem, porque não precisam ou porque têm vergonha… rezemos ao menos nós!