O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu, no final da semana passada (mais precisamente a 18 de Março, vésperas do dia de São José), que o uso de crucifixos nas salas de aulas não viola o direito à educação nem colide com a liberdade de os pais darem a educação que acharem mais correcta para seus filhos.
A decisão de quinze dos dezassete juízes deu, assim, razão ao governo italiano, que em Janeiro do ano passado tinha apresentado um recurso contra uma deliberação do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos de Novembro de 2009. Nessa altura o tribunal, com sede em Estrasburgo, tinha dado razão a uma italiana de origem finlandesa que defendia serem os crucifixos nas escolas uma violação do direito a educar os filhos de uma forma laica.
Por outro lado, decorreu, no final da semana passada (24 e 25 de Março), em Paris, o primeiro encontro internacional do ‘Pátio dos Gentios’, estrutura do Vaticano para o “diálogo entre crentes e não crentes”. Servindo-se de uma figura do Templo de Jerusalém onde podiam entrar todos os homens, crentes ou não crentes/pagãos, judeus ou gentios, esta iniciativa da Santa Sé pretende abrir ao diálogo entre as várias culturas, povos, línguas e nações.
Tentamos agora abordar estas duas questões com horizonte...
1 - Diálogo como forma de estar
O ‘Pátio dos gentios’ insere, no século XXI, num processo decorrente do Concílio Vaticano II, mas que alguns cristãos/católicos nem sempre têm entendido correctamente... como se ainda estivessemos em maré de cristandade.
A escolha de Paris para realizar este primeiro momento do ‘Pátio dos gentios’ é simbólica pela diversidade cultural que significa e pelas entidades que chamou a participar: Unesco (cuja sede está na capital francesa), a universidade de Sorbonne e o Instituto católico de Paris... em ordem a discutir, no mundo da cultura, as ‘Luzes, religiões e razão comum’.
Não podemos esquecer que foi da cultura francesa – concretamente a sua revolução de 1789 – que muito mudou no mundo. Também a miscigenação de culturas está patente no espectro sócio-político francês e, por arrastamento, europeu.
A curto prazo – neste ano de 2011 – outras iniciativas decorrerão: colóquios – da Primavera, em Bolonha e de Outono, em Estocolmo; escrita, em comum, de peças de teatro ou a construção de obras de arte, os encontros entre povos que saíram do ateísmo de Estado e procuram novos caminhos, na Albânia.
Quando alguns se entretêm com minudências e tricas, haja quem tenha horizontes e discuta-se o que é essencial e dá razões para viver... dignamente.
2 - Sinais comprometedores
Quem tem medo do crucifixo? Por que fazem tanta questão de o retirarem das escolas? Será por vergonha ou por incómodo? Por que se fez tanto barulho para a retirada dos crucifixos e agora tudo passa despercebido? Foi por que a decisão foi desfavorável aos agnósticos e laicos? Até onde irá o cinismo dos descrentes? Não lhe faltará cultura democrática para tentarem impôr as suas ideias sem acatarem as outros outros?
O crucifixo faz parte da nossa cultura ocidental. Por isso, seria uma aberração termos de submeter-nos à ditadura capciosa de certos democratas... sem memória nem cultura.
Temos de saber estar neste mundo avesso à noção de Deus – excepto se esse for ele mesmo e os seus apaniguados – e sabermos alicerçar as razões da nossa esperança, pois não basta usar ou apresentar o crucifixo como se fosse um adereço supersticioso, mas antes ele terá de ser um sinal de compromisso para assumirmos a fé que professamos e pela qual damos a cara... mesmo que nela nos batam por causa de Jesus.
Está na hora de levarmos para o ‘pátio dos gentios’ o sinal da cruz e a cruz como sinal de vida e de vitória!
A. Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
Agência ECCLESIA