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O filme "Amargo Pesadelo" estava a ser rodado no interior dos Estados Unidos. O director fez uma paragem num posto de gasolina nos confins do mundo, onde aconteceria uma cena entre vários actores contracenando com o proprietário do posto onde ele também morava com sua mulher e filho. Este último, autista, nunca saia do terreno da casa. A equipa parou no posto de gasolina para abastecer e aconteceu a cena mais marcante que o director teve a felicidade de encaixar no filme.
Num dos cortes para refazer a cena do abastecimento, um dos actores que sendo músico andava sempre acompanhado do seu instrumento de cordas aproveitando o intervalo da gravação e já tendo percebido a
presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto.
Como houve uma 'resposta musical" por parte do garoto, o director captou a importância da cena e mandou filmar. O resto pode-se ver no vídeo.
Atentem para alguns detalhes:
- O garoto é verdadeiramente um autista;
- Ele não estava nos planos do filme;
- A alegria do pai curtindo o duelo dos banjos... dançando;
- A felicidade da mãe captada numa janela da casa; e
- A reacção autêntica de um autista quando o actor músico quer
cumprimentá-lo.
Vale a pena o duelo, a beleza do momento e, mais que tudo, a alegria do garoto. A sua expressão. No início está distante, mas, à medida que toca o seu banjo, ele cresce com a música e vai deixando-se levar por ela, até
transformar a sua expressão num sorriso contagiante, transmitindo a todos a sua alegria. A alegria de um autista, que é resgatada por alguns momentos, graças a um violão forasteiro. O garoto brilha, cresce e exibe o sorriso preso nas dobras da sua deficiência, que a magia da música traz à superfície. Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada "por acaso" no filme "Amargo Pesadelo" (Ano: 1972).
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1. Os santos actualizam o Evangelho No próximo dia 1 de Maio, a Igreja vai beatificar o Papa João Paulo II. A beatificação de alguém é a celebração agradecida pela vida e testemunho cristãos de um homem ou de uma mulher, proclamando a sua virtude e oficializando o seu culto público. Reconhecido o seu alto grau de santidade, isto é, provadas as suas «virtudes heróicas» e confirmadas por um milagre, a pessoa beatificada é proposta à veneração dos crentes como modelo, estímulo e intercessora junto de Deus. Só Deus é verdadeiramente Santo. Mas todos os baptizados tornam-se «santos», como com toda naturalidade lhes chama S. Paulo nas suas cartas, por participação na vida e santidade de Cristo. No amor e na fidelidade ao Espírito Santo e à missão recebida da Igreja, a santidade original reflecte-se na santidade de carácter moral, que é um caminho feito de entrega e aperfeiçoamento espiritual no serviço de Deus e do próximo. É essa santidade que a Igreja, tantas vezes ao longo dos séculos, propõe aos contemporâneos e vindouros, como testemunho de qualidade humana e desafio de crescimento, como nos recorda o Concílio Vaticano II: «Todos os cristãos são chamados à santidade e obrigados a tender à perfeição do próprio estado de vida» (LG, 42). O viver cristão é um caminho de perfeição, que leva à felicidade verdadeira. Cada santo, a seu modo e no seu tempo, distingue‑se pelo grau elevado da sua comunhão pessoal com Cristo, que se revela sempre de um modo único e diferente, conforme os carismas e caminhos próprios com que respondeu à graça e aos sinais dos tempos. Ao beatificar João Paulo II, a Igreja está a sublinhar certos traços de uma santidade particular, considerando que não só merece ser conhecida e admirada, como pode ser luz que guia e estimula a prosseguir nos caminhos da conversão ao amor de Deus e do serviço aos homens e mulheres dos nossos dias. 2. Santidade: graça e liberdade em diálogo Todos os santos foram pessoas que se tornaram notáveis sinais da presença de Deus, pela forma como responderam aos desafios da sua época. Esses nossos contemporâneos são muitas vezes gente comum e nem sempre são logo reconhecidos como quem está reflectindo o amor de Deus. Há, certamente, inumeráveis «santos desconhecidos», fora dos catálogos oficiais. Mas, quando conhecidos, logo nos apercebemos que as suas vidas adquiriram tal elevação que podem inspirar, de modo universal, os ideais cristãos de transformação do mundo em Reino de Deus, seja qual for o tempo e a geografia. A santidade é fruto da relação entre a Graça de Deus e a Liberdade humana. Esse diálogo, cheio de mistério e de comunhão, exige sempre mais despojamento do próprio «eu», aumentando o ânimo para agir. É próprio do amor, dado e recebido, libertar a liberdade. A pessoa assim tocada nas suas actividades e passividades revela como o amor de Deus continua actuante e actual, vindo através dela, frágil instrumento, ao encontro das alegrias e tristezas de todos os que procuram a luz, a paz e o sentido da existência. O santo é um pecador de tal modo agraciado e libertado que se tornou para o mundo um sinal de esperança e revelação de um Deus vivo com quem se pode contar, porque Ele conta connosco. A vida do Papa João Paulo II é, sem dúvida, um desses sinais irradiantes de esperança. 3. Traços da santidade de João Paulo II Entre tantas qualidades e virtudes, apontamos quatro grandes traços da personalidade e da missão do Papa João Paulo II, indicando como nele se actualizou o Evangelho de Jesus Cristo. 3.1. Homem de intensa vida interior que se comunica Quem não se lembra do modo intenso e profundo como celebrava a Eucaristia, como se recolhia longamente em oração, onde quer que chegasse, e a devoção com que falava espontaneamente de Cristo e de Nossa Senhora? Ao mesmo tempo, manifestava uma invulgar capacidade de comunicação pessoal, tanto diante das multidões, como em particular, atraindo magneticamente tantos jovens, entre os quais muitos que se afirmavam estar distantes da Igreja. A 14 de Maio de 1982, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, João Paulo II assim se dirigia aos jovens: «É sabido como sois sensíveis à tensão entre o bem e o mal que existe no mundo e em vós próprios… Contudo, caros jovens, para além destas tensões, possuís uma aptidão quase conatural para evangelizar. Porque a evangelização não se faz sem entusiasmo juvenil… sem alegria, esperança, transparência, audácia, criatividade, idealismo… Sim, a vossa sensibilidade e a vossa generosidade espontânea, a tendência para tudo o que é belo, tornam cada um de vós um aliado natural de Cristo… Só em Cristo encontrareis resposta aos próprios problemas e inquietações. E sabeis porquê: ele foi o homem que mais amou». E, no dia seguinte ao chegar a Coimbra, não hesitou em pôr aos ombros a capa preta que um estudante lhe ofereceu e, no pátio da Universidade, gritou à multidão: «Olá, malta! O Papa conta convosco! Melhor, Cristo conta convosco!». 3.2. Profeta de audazes intervenções em nome da justiça e da paz Nas primeiras palavras que disse ao povo reunido na Praça de S. Pedro, logo depois de ser eleito Papa, assim nos exortou: «Não tenhais medo!». E ele foi um homem sem medo, ao enfrentar muitas e difíceis situações políticas, sociais e morais, intervindo desassombradamente. Foi um homem corajosamente sem medo em relação às políticas internacionais, nomeadamente do Leste europeu. Não restam dúvidas acerca do seu papel na queda de regimes comunistas totalitários, na promoção dos direitos humanos e na defesa da vida e dos valores morais. Apontando sempre caminhos de reconciliação e paz, viajou por todo o mundo, correndo todos os riscos, na actualização da missão de Jesus Cristo, em incansáveis acções de nova evangelização. 3.3. Servidor do amor e ternura pelos mais fracos e do perdão aos inimigos João Paulo II manifestou sempre uma particular atenção e carinho para com as crianças, os mais pobres e frágeis. Era comovente quando, cheio de alegria e seriedade, ultrapassava o protocolo e tocava nas crianças e doentes. Mas deve sublinhar‑se aqui o gesto mais audazmente evangélico: a visita ao seu próprio agressor, na prisão, e a longa conversa que manteve com ele, num gesto ousado de perdão, repleto da compaixão de Deus amor. 3.4. Testemunha da alegria na saúde e na doença, com máximo respeito pela vida Por fim, destacamos o modo humilde e sereno como encarou a sua doença, a aceitação da sua imagem desfigurada, e a própria incapacidade de falar, sem vergonha de apresentar a sua verdade publicamente, solidário com todos os que sofrem. Lutou até ao fim sem desistir de estar presente para comunicar a fé, a certeza do amor de Deus, em todas as circunstâncias, mesmo naquelas que o mundo já não quer ver ou a que retirou a dignidade. Todas estas limitações são aceites por um homem com um passado em que cultivou a arte e o desporto, com saúde robusta e temperamento forte. Mesmo já gravemente doente e na despedida deste mundo, deu-nos eloquentes lições, como mestre e pastor até ao fim. 4. A santidade ao alcance de todos O Papa, que agora vai ser beatificado, assim nos exortava numa Carta apostólica à entrada do novo milénio: «Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta “medida alta” da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direcção» (NMI, 31). A santidade não está reservada a um grupo restrito de génios e heróis da virtude. Com a graça de Deus, está ao alcance de todos dar alta qualidade de amor à vida comum. A beatificação do Papa João Paulo II é um chamamento e uma oferta que a Igreja faz a todos os homens e mulheres de boa vontade. Somos convidados a dar graças a Deus pela vida e acção deste Papa, por todo o bem e estímulo que nos continua a transmitir pelo seu exemplo e intercessão. Somos também convidados a agradecer e a acolher a bondade de Deus que, mais uma vez, se revela atento às nossas necessidades e alegrias, tristezas e esperanças, suscitando sempre, no momento certo, pessoas disponíveis a apontar, de forma renovada, Jesus Cristo, caminho seguro, verdade luminosa e vida abundante. 5. Celebração nacional em Fátima Para além das iniciativas que as diversas comunidades cristãs acharem por bem promover, os Bispos portugueses convidam os fiéis a associar‑se à comemoração, a nível nacional, da Beatificação do Papa João Paulo II, que terá lugar em Fátima, no próximo dia 13 de Maio. João Paulo II cultivou uma devoção autenticamente cristã a Nossa Senhora, tornando vida a sua divisa episcopal: «Totus tuus. Todo teu. Tudo o que tenho vos pertence. Sois todo o meu bem. Dai‑me o vosso coração». É considerado o Papa de Fátima, que um ano depois do atentado na Praça de S. Pedro, em Roma, a 13 de Maio de 1981, veio à Cova da Iria agradecer à Rainha da Paz o ter providencialmente sobrevivido. Que Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, nos inspire a progredir nos caminhos da santidade, a que Deus nos chama na vida comum do nosso quotidiano. Fátima, 14 de Março de 2011 |
ECCLESIA
A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.
A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.
A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.
O Evangelho também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como “o salvador do mundo” torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.
ECCLESIA, padres dehonianos
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FACEBOOK ... ... O PERIGO.
ESTOU SERIAMENTE A EQUACIONAR A HIPÓTESE DE DEIXAR DE UTILIZAR
Um abraço a todos
Lourdes Moura
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Dua fotos distanciadas no tempo (1976 e 2011). O mesmo Homem de sempre.
Obrigado, D. Arquimínio!
Anda por aí um burburinho dos diabos, à conta de uma declaração de uma centena e meia de teólogos alemães que, há falta de um tema mais original, decidiram questionar o celibato sacerdotal. É, juntamente com o famigerado sacerdócio feminino, uma insistente proposta de alguns grupos de católicos pouco ortodoxos que, se me permitem a charada ecuménica, de tão reivindicativos dir-se-ia que são protestantes.
Não obstante alguns contornos mais caricatos, a questão é séria e merece alguma reflexão. Depois de uma etapa fundacional em que, à imagem de
Cristo, os apóstolos e outros, como São Paulo, se mantiveram célibes “pelo reino dos Céus”, vieram tempos em que os presbíteros podiam ser casados. Contudo, tendo em conta os resultados dessa primitiva experiência, entendeu-se preferível retomar a tradição evangélica, repondo o celibato sacerdotal na Igreja Católica latina. Portanto, um eventual regresso à anterior situação representaria, em termos históricos, um retrocesso, ainda que disfarçado de revolucionária novidade e, o que é pior, um afastamento em relação ao exemplo de Cristo, que é o modelo e a razão do sacerdócio eclesial.
Há, sobre esta matéria, um duplo equívoco, que importa esclarecer.
O primeiro decorre da suposição de que só há amor quando há uma vida sexual activa e, portanto, a imposição do celibato implica a frustração emocional do padre que, entregue à sua própria solidão, fica assim mais exposto às fraquezas da humana condição. Já São Paulo advertira: mais vale casar-se do que abrasar-se. É certo. Porém, o sacerdote não é um homem sem amor, muito embora a sua realização afectiva não tenha expressão sexual. Um presbítero que não ame, que não esteja apaixonado, é certamente um ser vulnerável e fragilizado, não por ser padre, mas precisamente por o não saber ser.
Com efeito, o ministério sacerdotal não se reduz a uma função burocrática, em cujo caso o celibato não faria sentido, mas antes se realiza naquele “amor maior” de que Jesus Cristo é o perfeito exemplo. E é bom recordar que o Verbo encarnado não é apenas Deus perfeito, mas também perfeito homem, pelo que a sua circunstância celibatária não só não foi óbice como condição para essa plena realização da sua natureza humana.
Outro lapso é supor que os padres da Igreja Católica são solteiros, o que manifestamente não corresponde à realidade. Saulo de Tarso, quando disserta sobre a grandeza do sacramento do matrimónio, refere-o a Cristo e à sua Igreja, por entender que esta aliança é de natureza nupcial. Por isso, o sacerdote católico, configurado com Cristo pela graça da sua ordenação, “casa” com a Igreja, que é a sua esposa, não apenas mística mas também real e existencial, na medida em que lhe exige uma entrega exclusiva e total.
Há tempos ouvi na rádio uma conhecida balada, em que se repetia um refrão que é aplicável ao celibato sacerdotal: “eu não sou de ninguém, eu sou de todo o mundo e todo o mundo me quer bem”. Nem mais: para ser de todos e para todos é preciso não ser de ninguém em particular. É o que também me dizia um amigo quando, dando-me as Boas Festas, desejava felicidades para a minha família que, acrescentava com inspirada eloquência, “somos todos nós”.
Mas há mais. Os inimigos do celibato sacerdotal obrigatório são muito mais generosos do que se pensa pois, não satisfeitos com dar uma mulher aos padres, querem dar-lhes duas: a esposa e … a sogra!
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Jornal PÚBLICO, Lisboa, 13 de Março de 2011 |
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1. Timothy Radcliffe – que foi Mestre Geral da Ordem Dominicana –, num livro que recebeu o Prémio Michael Ramsey, agora, traduzido em português (1), cita um sermão de Santo Agostinho (354-430) que parece dirigido a esta Quaresma de 2011. Dizeis todos: “os tempos estão perturbados, os tempos estão difíceis, são tempos desgraçados”. Nós diríamos: eram e são! Agostinho, porém, não recorre a bodes expiatórios para explicar os males que nos afligem: não são os outros e só os outros os verdadeiros culpados da nossa situação e não são eles os únicos a ter de mudar. É evidente que há coisas a mudar que não dependem de nós, mas sabemos que, se nós próprios não mudarmos a partir de dentro, se não nos convertermos, seremos nós mais um veneno na sociedade e na Igreja. Não basta uma mudança para alguns dias, uns repentes de generosidade. Diz, por isso, o santo de Hipona: Vivei uma vida cheia de bondade e mudareis os tempos. Não é este o discurso apropriado a quem gosta de ter sempre, com razão ou sem ela, alguma coisa de que se queixar. É por isso, aliás, que os meios de comunicação social, com a exposição permanente da desgraça e a colecção diária de lamentações, julgam manter e alargar a sua clientela. 2. Diz-se, com frequência, que a raiz da crise é a falta de ética. Não se pode dizer, no entanto, que haja falta de conversa, de livros e debates sobre ética. Pelo contrário, vivemos na sua banalização, não por excesso de virtude, mas precisamente, pela sua ausência. A ética é tanto mais evocada quanto menos é vivida. Quando começou a crise, a invocação da falta de ética tornou-se a forma de evitar a análise e a avaliação dos impulsos, do percurso e do rumo da nossa civilização. Não é saudável continuar a confundir a vida ética com o discurso trivial sobre ela. Uma outra forma de falar da falta de ética é dizer que já não há valores. Ter preferências é valorizar. Podemos valorizar bem ou mal, dar importância aquilo que, depois, descobrimos que não presta e desprezar o que, depois, descobrimos que era essencial. Por outro lado, quando não pesamos, cuidadosamente, os prós e os contras das nossas preferências, expomo-nos a não encontrar a boa medida para as nossas opções e decisões. Valores existem, mas o que vale para uns não vale para outros e nem sempre vale da mesma maneira. Ao ser livre, o ser humano não só pode escolher como tem de rectificar os seus juízos e tornar boa a sua vontade para encontrar um caminho verdadeiramente humano. Somos potencialmente bons e maus nos nossos comportamentos e nas nossas decisões. Somos seres não acabados que precisam de se robustecer no bem para ter energias para resistir ao mal. 3. A noção clássica de virtude dizia que ela torna bons os que a possuem e boas as suas acções. Nessa linha, uma existência guiada pela prática do bem deveria dar sabor e verdadeiro prazer à vida. Ora, quando se falava de virtude, dizia-se o contrário: o que dá prazer ou é pecado ou faz mal. O prestígio da ética transitou para a noção de dever. O imperativo ético de Kant, simplificado, pode traduzir-se assim: age de tal forma que o teu agir se possa tornar regra universal. O padre Albert Plé (1910-1988), um dominicano francês, fundador do “Supplément de la Vie Spirituelle” (Revue d’éthique et de théologie morale), escreveu um famoso livro, “Por dever ou por prazer? (2), concluindo: “Diz-me onde encontras – ou sonhas encontrar – o teu prazer de viver e dir-te-ei quem tu és”. O filósofo Comte-Sponville retomou o mesmo caminho com o “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” que, para ele, são muitas: polidez, fidelidade, prudência, temperança, coragem, justiça, generosidade, compaixão, misericórdia, gratidão, humildade, simplicidade, tolerância, pureza, doçura, boa-fé, humor e amor (3). Inscreveu-se numa tradição que remonta a Aristóteles. Leonardo Boff, que continua a ampliar as exigências e as dimensões da ética e da teologia da libertação, chegou à conclusão de que, para mudar o mundo, não basta o protesto e o desejo. Para participar na mudança, é preciso descobrir e equipar-se com as “Virtudes para outro Mundo possível” (4). Sem elas, tudo ficará na mesma, depois dos êxitos aparentes das grandes manifestações. Ao expor, no 3º Fórum Espiritual Mundial, o conteúdo dessa obra, começou por alguns lugares comuns. Nunca, como agora, o destino pede uma mudança de rumo. O planeta Terra é a nossa casa. Ele e nós estamos em risco. Precisamos de um novo olhar que rasgue o horizonte de uma esperança mais plena do que a da nossa actual cultura. Precisamos de uma ética que imponha novos relacionamentos com a natureza. Daí a importância do Fórum Espiritual Mundial que visa suscitar a espiritualidade e o respeito pela diversidade. O erro da humanidade é o etnocentrismo. Quando fomos criados, a Terra já estava pronta e há comportamentos sociais que dizimam o planeta. É preciso passar da idade infantil no que se refere à responsabilidade para com a Terra. Importa incorporar o que o budismo nos trouxe: a ética da compaixão com toda a natureza, connosco e com o próximo. Esta obra é um programa e um instrumento de trabalho. A Quaresma não é para repetir que vivemos em tempos desgraçados. É para curar as nossas raízes e acolher o gosto de fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem. |
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(1) Ser Cristão para quê?, Paulinas, Lisboa, 2011. |
Lisboa, 17 Mar (Ecclesia) – Os membros do Facebook, rede social na Internet, podem acompanhar a Quaresma através do grupo ‘Lent2face’, criado por Bento Oliveira, professor da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica. “O objectivo é caminhar ao longo deste tempo em comunidade virtual”, refere a página, cuja designação junta a palavra ‘Lent’ (‘Quaresma’ em inglês), às quatro primeiras letras de 'Facebook'. Aos textos, imagens e vídeos publicados por Bento Oliveira para suscitar a reflexão, acrescem os comentários e contribuições multimédia dos mais de 650 membros que até hoje se juntaram ao grupo. A Quaresma, que este ano começou a 9 de Março (quarta-feira de Cinzas), é um período de 40 dias marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que servem de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos. RM |
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