Já foi moda colocar um pai Natal pendurado das janelas. Mas, felizmente, no ano passado, começou a aparecer a bela imagem do Menino Jesus, o verdadeiro Rei das Festas do Natal. Apresenta-se sobre fundo vermelho, olhando em frente, de braços abertos, como quem espera por um abraço, pelo nosso abraço. Alguém, mais atrevido, entendeu que lhe pedia colo: agarrou-o, aconchegou-o a si e…o Bebé fez-lhe festas na barba, deixando-lhe o coração ainda mais enternecido.
Assisti à cena, através da minha imaginação, e vi o desconhecido levá-lo para casa. Tentou deitá-lo na cama do filho, mas Jesus apontava para a janela e para a janela o levaram, divertidos. Jesus olhava com atenção e espreitava para cada casa. Sorria encantado sempre que descobria um novo estandarte com a Sua imagem e abençoava aquele lar. Mesmo em frente, por uma janela de sacada, viu uma família reunida entre caixas e figuras. Estavam a montar um Presépio e Jesus rejubilava. Ergueu a mãozita e abençoou-os todos. Pouco depois, pela janela aberta, ouvia-se cantar. Tinham-se reunido à volta do Presépio para cantar ao Menino. E Jesus ouvia, do outro lado da rua. Uma rapariga tocava viola e entoava a segunda voz, um pequenito tocava guizos ao ritmo suave da melodia, o pai tinha um acordeão sobre os joelhos e acompanhava o coro infantil com a sua voz de barítono bem afinada, a mãe, entre duas filhas, aguentava as primeiras vozes daquele Adeste Fideles encantador. Alguns peões paravam em baixo para escutar. E Jesus abençoava uns e outros, debruçando-se mais para melhor ver e ouvir.
Mais para a esquerda, outra janela permitia ver um quarto de cama com uma velhinha deitada. Sobre a mesa-de-cabeceira, já alguém colocara um pequeno presépio de barro pintado em tons sépia. A doente olhava-o enternecida e parecia rezar. Jesus, sempre ao colo, esticava-se: parecia querer ouvir aquela avó tão débil. Sim, queria fazer-lhe todas as vontades. E abençoava-a, e às pessoas por quem ela pedia.
Tive então uma ideia: fui visitar os meus tios, que moram mesmo defronte da varanda onde Jesus estava e postei-me na varanda para me mostrar. Disse-lhe adeus, atirei-lhe beijos e…o Menino não me abençoava. Fiquei triste e desapontado. Não havia bênção para mim? Sentei-me então com o meu computador portátil e comecei a escrever sobre o meu Menino à janela, que não parava de espreitar, mas não me via a mim. De repente, deu um salto para o meu colo, afastou a minha gravata, abriu-me a camisa e espreitou para o meu coração. Assustei-me com a cara que fez. Pareceu-me que ia chorar, com o beicinho a tremer. Não resisti ao impulso: “Não chores, meu Menino. Gosto tanto de Ti. Se quiseres, vou já ter contigo, primeiro no confessionário, para que me perdoes, e depois no Sacrário onde Te escondes tão bem”. Parou logo de chorar e abençoou-me! Sim! Abençoou-me, finalmente! E deu um salto para a janela, à tua procura, meu caro leitor. Quer ver-te bem mais perto de Si, neste Natal.
Isabel Vasco Costa
in ECCLESIA