por Zulmiro Sarmento, em 17.04.10
Editado por: Fabiano Carvalho
O Sudário tem a espessura de 0,34 mm e pesa aproximadamente 2,45 Kg.
Apresenta uma dupla marca frontal e dorsal de um homem, além de marcas de resultantes de um incêndio (1532), com manchas e remendos.
Típico lençol funerário judaico da antiguidade, fiado a mão, com material rico e fino.
A palavra sudário provém do latim sudarium, lenço com que se enxugava o suor do rosto, e pano com que se cobria o rosto dos mortos; posteriormente, passou a designar o lençol usado para envolver cadáveres ou mortalha.
O Santo Sudário está guardado na Catedral de Turim e é eventualmente exposto publicamente.
A ciência revela: o lençol de Turim não é uma fraude.
O Sudário, tal como aparece a olho nu |
O Sudário de Turim — uma peça de linho que a tradição diz ser o lençol mortuário de Jesus — abriga pólens de plantas que só existem na região de Jerusalém e cuja data é anterior ao século 8 d.C. — podendo provir de épocas bem mais antigas. A informação foi divulgada, em agosto último, pelo botânico Avinoam Danin, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ela derruba definitivamente a tese de que o Sudário seria uma falsificação produzida na Europa durante a Idade Média. Essa idéia, comunicada de maneira sensacionalista em 1988, baseava-se numa única prova: a datação da relíquia, realizada pelo método do carbono 14, que fixou como período de sua fabricação os anos compreendidos entre 1260 e 1390 d.C. A opinião pública embarcou nessa tese, sem atentar para os seguintes fatos:
1 - O Sudário já passou por milhares de testes
2 - De todos os experimentos, só o do carbono 14 contestou a autenticidade da peça
3 - Os especialistas se opuseram à utilização dessa técnica, devido à grande contaminação que o pano sofreu ao longo dos séculos
4 - Harry Gove, o principal responsável pela datação, admitiu que a contaminação podia ter falseado os resultados do teste.
A idéia da falsificação está agora descartada.
A existência dos pólens era conhecida pelos pesquisadores desde 1973, mas essa informação foi atropelada pelo rolo compressor do teste do carbono 14. Ela devolve ao estudo do Sudário a seriedade que o assunto merece. E chama a atenção para um "detalhe" que os autores da tese da falsificação se esqueceram de explicar: como foi produzida a imagem gravada no tecido?
A Síndone (outro nome pelo qual é conhecido o Sudário, derivado da palavra grega sindón, que significa lençol) apresenta uma imagem muito tênue e invertida. Ela é reinvertida e revela detalhes espantosos, quando observada no negativo fotográfico. Esse fato causou enorme surpresa ao advogado italiano Secondo Pia, que, em 1898, fez a primeira foto do lençol. Surpresa ainda maior ocorreria quase cem anos mais tarde, em 1974, quando se descobriu que a imagem comportava também uma informação tridimensional. Verificou-se que era possível relacionar de maneira rigorosa a intensidade das marcas produzidas no tecido com a distância que supostamente havia separado pontos do pano do corpo morto. Com base nisso, dois pesquisadores americanos, John Jackson e Eric Jumper, utilizando um computador da Nasa, fizeram, em 1978, uma reconstituição volumétrica integral do corpo. Não se conhece nenhuma imagem como essa. Para alguns, ela é uma prova da ressurreição de Jesus. Para outros, continua sendo um mistério insondável. A ciência ainda está longe de explicá-lo. Mas já lançou muita luz sobre ele, como se verá nas páginas a seguir.
O homem
Marcas do açoite e da crucifixão
O lençol apresenta uma imagem dupla, ventral e dorsal, de um homem nu, em tamanho natural. Os pesquisadores americanos Kenneth Stevenson e Gary Habermas calculam que ele tinha entre 30 e 35 anos, aproximadamente 1,80 m de altura e 79 kg de peso. "Era um homem musculoso, habituado ao trabalho manual", afirmam. Dale Stewart, do Museu Smithsoniano de História Natural, dos Estados Unidos, diz que: “O lençol apresenta uma imagem dupla, ventral e dorsal, a barba, o cabelo e os traços faciais são característicos do grupo racial semita”.
Cabelos trançados
O historiador inglês Ian Wilson foi o primeiro a chamar a atenção para o formato da longa mecha de cabelo que cai sobre o meio das costas. Ela assemelha-se muito a uma trança desmanchada. Trançar os cabelos atrás do pescoço era uma moda comum entre os homens judeus do tempo de Jesus. As numerosas marcas de ferimentos que aparecem no homem do Sudário revelam que ele foi brutalmente açoitado, coroado com espinhos, crucificado e perfurado com lança do lado direito do tórax. Pierre Barbet, cirurgião do hospital Saint-Joseph, de Paris, e outros especialistas em anatomia e medicina legal antes e depois dele estudaram exaustivamente essas marcas. E concluíram que elas correspondem, nos mínimos detalhes, às narrativas sobre a flagelação, morte e sepultamento de Jesus que aparecem nos Evangelhos. E que acrescentam informações desconhecidas pela tradição cristã, mas confirmadas pela recente pesquisa histórica e arqueológica — como o fato de o crucificado ter sido pregado à barra horizontal da cruz pelos pulsos e não pelos meios das mãos. É impossível acreditar que falsificadores medievais pudessem saber de tudo isso. Além de dominar uma técnica de impressão sem paralelos na história, eles precisariam ter conhecimentos de arqueologia, história, anatomia e fisiologia que só se tornaram disponíveis no século 20.
A idéia de que os homens do passado seriam muito baixos baseia-se nas dimensões das armaduras medievais. Mas não leva em conta que estas geralmente pertenciam a jovens pagens e não a cavaleiros adultos. A altura média dos judeus adultos do século 1 era de 1,77 ou 1,78 m.
A imagem dramática que aparece no negativo fotográfico Entre 1978 e 1981, um grupo internacional de cientistas do mais alto nível, reunidos
no Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim, dedicou, em conjunto, quase 150 mil horas de trabalho à análise do lençol mortuário. E chegou à conclusão de que a figura que nele aparece não é uma representação, mas uma imagem misteriosamente
produzida pelo corpo que ele envolveu.
Este apresenta uma grande quantidade de feridas, com uma precisão de detalhes
simplesmente espantosa. É o caso, por exemplo, dos halos formados em torno das manchas de sangue, decorrentes da separação entre a parte sólida e o soro.
Segundo os pesquisadores do projeto, o corpo exibe sinais indiscutíveis de morte e
rigidez, mas nenhum indício de decomposição – informação que foi interpretada por
muitos como uma das provas da ressurreição.
O "mapa" do Sudário, feito sobre o negativo fotográfico do lençol, revela os seguintes elementos: queimaduras devidas ao incêndio que danificou o Sudário em 1532;
remendos aplicados, em 1534, sobre as partes destruídas do tecido; manchas produzidas pela água utilizada para apagar o fogo; ferimentos causados pelos açoites nas costas; gotas de sangue provocadas por perfurações na cabeça; ferida decorrente do transpassamento do pulso esquerdo; rastros do sangue que escorreu pelos antebraços durante a crucifixão; ferida causada por transpassamento no lado direito do tórax; rastro do sangue que escorreu da ferida do tórax; mancha de sangue resultante do transpassamento dos pés; contusão produzida pelo transporte da barra horizontal da cruz (círculos nas costas). |
O pano
Fibras que não existiam na Europa
A reconstituição volumétrica do rosto do Sudário, feita por computador
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O Sudário é uma peça contínua de puro linho, com 4,36 m de comprimento, 1,10 m de largura e 0,34 mm de espessura. O pano, produzido em tear manual, é muito rústico. E as técnicas de fiação e tecelagem nele utilizadas eram amplamente difundidas no Oriente Médio, na época de Jesus, tendo sido encontrados vários similares. A celulose das fibras apresenta-se degradada. E o tecido, originalmente branco-marfim, exibe uma coloração amarelo-palha, por efeito de oxidação.
Além do linho, a Síndone contém vestígios de fibras de um tipo de algodão do Oriente Médio, o Gossypium herbaceum. Isso leva a crer que o pano tenha sido tecido num tear previamente utilizado na confecção de peças de algodão. O que é mais um argumento a favor da origem oriental do Sudário, pois, como lembra John Tyrer, pesquisador do Instituto Têxtil de Manchester, Inglaterra, o algodão não era cultivado na Europa, durante a Idade Média.
A impressão
A luz ofuscante que chamuscou o lençol
No esforço quase irracional de negar a autenticidade do Sudário, alguns estudiosos lançaram mão de todo tipo de hipótese para explicar a formação da imagem: pintura, compressão do tecido sobre o corpo de um cadáver untado com óleos, frotagem do linho sobre um baixo-relevo e até uma fotografia produzida em plena Idade Média. Nenhuma dessas idéias resistiu às análises científicas. As pesquisas mostraram que:
1 - a imagem não apresenta contornos nítidos, nem linhas que seguem direções preferenciais, como ocorre com todo o desenho, pintura ou frotagem;
2 - apesar de o linho ser fino, a imagem é superficial e não aparece do outro lado do pano, ao contrário do que aconteceria com uma pintura, compressão ou frotagem;
3 - não há vestígios de pigmentos, tintas ou vernizes, nem da difusão de líquidos através da trama do tecido (exceto nas marcas de sangue e nas manchas de água);
4 - a imagem não apresenta as deformações que seriam inevitáveis se o lençol tivesse sido comprimido sobre um cadáver (nesse caso, devido à tridimensionalidade do corpo, partes como o nariz, por exemplo, produziriam uma impressão bem mais larga do que o normal);
5 - a imagem dorsal não é mais intensa nem mais profunda do que a frontal, o que seria de se esperar no caso de uma impressão por contato; ambas têm características idênticas, como se, no instante da formação da figura, o corpo, deitado, apresentasse peso zero
6 - o tratamento da imagem por computador produziu uma forma tridimensional proporcionada e sem distorções, o que jamais ocorre em casos de pintura ou fotografia.
Aloés e Mirra
Ao iluminar o Santo Lençol com luz ultravioleta, a tonalidade como que bronzeada, em algumas partes torna-se dourada, o que prova a presença do aloés. E na parte inferior das pernas vem-se manchas escuras, próprias da solução de mirra e aloés ativada pelo calor dos incêndios que sofreu o Lençol.
O brilho emanou do corpo
Descartadas todas essas hipóteses, como explicar a impressão? Alguns cientistas sugerem que uma imagem como essa só poderia ser produzida se, numa fração de segundo, o corpo tivesse emitido um clarão equivalente ao da luz solar ou de uma explosão nuclear, como a da bomba de Hiroshima. Pela análise da figura, conclui-se que essa luz não foi refletida pelo corpo, como ocorre numa fotografia, mas emanou dele mesmo, chamuscando o pano.
Sinais que confirmam narrativa da Bíblia Alguns estudiosos já chamaram o Sudário de "O Quinto Evangelho". Pois, tanto quanto os textos de Marcos, Mateus, Lucas e João, ele forneceria informações preciosas sobre a tortura, a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus. A diferença é que e se evangelho puramente visual quase nada oferece ao olhar apressado e desatento. Ele exige uma observação respeitosa, acurada e paciente, de preferência mediada pelos óculos da ciência. Aí, sim, o Sudário apresenta uma quantidade esmagadora de informações. E desvela a história de um sacrifício capaz de emocionar até o mais insensível dos observadores. É difícil sair ileso do confronto com as lições desse pano milenar. A coroa de espinhos não era uma simples tiara, mas um artefato que cobria a cabeça toda. O soldado que a urdiu deve ter usado seu próprio capacete como molde. Os espinhos, com 5 centímetros de comprimento, causaram 72 perfurações na cabeça A flagelação foi tão brutal que, por si só, teria matado uma pessoa mais frágil. Ela acelerou a morte do homem do Sudário, abreviando sua permanência na cruz. Foram contados de 90 a 120 ferimentos causados pelo açoite. A forma das feridas corresponde às produzidas pelo flagrum, o chicote romano Os condenados não carregavam a cruzes completas, mas apenas as barras horizontais. Os mastros ficavam pré-fixados no local de execução. Mesmo assim, o transporte da trave provocou grandes hematomas nas costas do homem do Sudário. E quedas ao longo do percurso machucaram seus joelhos e rosto. A rótula esquerda e o nariz apresentam contusões graves – com a provável separação da cartilagem nasal Os pregos não foram fixados no meio das mãos, como se pensa. Mas numa parte do pulso conhecida pelos anatomistas como "espaço de Destot". Se o transpassamento tivesse ocorrido no meio das mãos, estas teriam rasgado com o peso do corpo. Ao passo que, no "espaço de Destot", a introdução dos pregos assegurava uma fixação firme à cruz. A perfuração dos pulsos seccionou os nervos medianos, provocando a retração dos polegares. Estes estão dobrados para o interior das mãos na figura do Sudário O poste da cruz não era alto. E a barra horizontal se encaixava nele por meio de uma fenda. O estudo dos rastros de sangue mostra que o homem foi pregado à barra sobre o chão, sendo depois alçado até o topo do mastro. Seus pés – o esquerdo sobre o direito – foram fixados ao poste por um único prego, de cerca de 18 centímetros |
As moedas
Objetos do tempo de Pôncio Pilatos
Aimagem tridimensional, produzida por computador, trouxe um argumento espetacular a favor da autenticidade do Sudário. Sobre as pálpebras do homem foram descobertos dois objetos arredondados, que não são visíveis a olho nu nem no negativo fotográfico. O pesquisador americano Francis Filas, da Universidade Loyola, de Chicago, identificou um dos artefatos: trata-se de uma moeda, o dilepton lituus, produzida na Palestina sob o governo de Pôncio Pilatos, entre os anos 29 e 32 d.C. O segundo objeto foi identificado pouco depois: uma outra moeda, cunhada por Pilatos em homenagem a Júlia, mãe do imperador romano Tibério, em 29 d.C. Colocar moedas sobre os olhos do morto, para manter as pálpebras fechadas, fazia parte dos ritos funerários judaicos da época de Jesus.
O incêndio
As chamas que danificaram a relíquia
O Código de Pray aparece na parte inferior da imagem |
O que primeiro chama a atenção de quem olha o Sudário é um conjunto de manchas simétricas, dispostas ao longo de duas linhas longitudinais, que percorrem o pano de uma extremidade à outra. Elas são conseqüência do incêndio que, na noite de 3 para 4 de dezembro de 1532, queimou a capela do castelo de Chambéry, na França, onde estava guardada a relíquia. Dobrada em 48 camadas, a Síndone encontrava-se então dentro de uma caixa de madeira fechada, revestida de prata por fora e de veludo por dentro. Derretida pelo calor, a prata gotejou sobre uma das bordas do tecido, produzindo uma queimadura que, devido às dobras, danificou simetricamente o Sudário.
A chamada área da imagem, felizmente, foi pouco atingida. Mas alguns pedaços do pano queimaram completamente, tendo sido remendados, dois anos mais tarde, pelas freiras clarissas da capela de Chambéry. Além do fogo, também a água utilizada para apagar o incêndio produziu marcas na Síndone, formando halos ao longo do eixo central e nas margens longitudinais do pano. Um desses halos formou-se exatamente acima da cabeça da figura, outro no plexo solar e um terceiro na região dos joelhos, dando à imagem um aspecto ainda mais hierático e misterioso.
O Sudário apresenta também quatro grupos de pequenos furos, resultantes de uma queimadura bem mais antiga. O Código de Pray, um manuscrito de 1192-1195 (portanto anterior à suposta idade da Síndone estabelecida pelo teste do carbono 14), mostra o corpo morto de Jesus envolvido num pano que exibe furos idênticos aos do Sudário. Parece óbvio que o autor do Código o utilizou como modelo.
O carbono
Como a fumaça confundiu o exame
Há uma enorme probabilidade de que a fumaça produzida durante o incêndio de Chambéry tenha contaminado o Sudário, depositando em suas fibras o carbono de outras substâncias presentes. Isso é mais do que uma simples hipótese. Pois o cientista russo Dmitri Kuznetsov, prêmio Lênin de ciência, resolveu reproduzir as mesmas condições em laboratório. "Apareceu com clareza uma grande troca entre o gás carbônico do ambiente e o tecido, a qual modificou o conteúdo de carbono 14 do último", disse". A troca foi bem elevada: cerca de 25% do total. Isso falseou os resultados do exame, e, realizado o teste com radiocarbono, o linho pareceu muito mais recente do que era na realidade." Esse experimento, por si só, desqualifica completamente a datação do Sudário feita pelo método do carbono 14.
A contestação de Kouznetsov
O diretor dos Laboratórios E.A. Sedoo de Pesquisa de Bio-Polímeros de Moscou e premio Lênin de Ciência, Dr. A. Kouznetsov, participou de um congresso em Londres onde foi convidado a testar seus métodos de datação por radiocarbono pelo Geólogo Dr Guy Berthault, para comparar com os resultados do exame do Sudário.
Analisando a história do Sudário, descobriu que ele passou por um incêndio em 1532. Resolveu recriar a condição em laboratório, e descobriu que o linho absorveu C14 recente, principalmente por ter se submetido a altas temperaturas por tempos suficientemente longos na presença de produtos da combustão (água, anidrido carbônico e óxido de carbono) e íons de prata, pois a urna era de prata, capazes de agir como catalisadores.
Para comprovar isso, Kouznetsov pegou um tecido de linho do séc. I, procedente de Em Gedi (Israel), e enviou ao Laboratório de Tucson, Arizona, onde fizeram a datação.
Mais tarde, o professor russo queimou outro pedaço do mesmo lençol, simulando a condição do Sudário no incêndio, e enviou novamente para Tucson. O resultado desta datação foi de 1300 anos mais recente.
Conforme o Dr. Valdés e o Dr. Kouznetsov, não se aplica testes de rádiocarbono a matérias têxteis como o linho, devido aos seus altos níveis de contaminação sem possibilidade prática de remoção.
No entanto, existem motivos para se supor que o que ocorreu foi uma tentativa deliberada de desacreditar a originalidade do Sudário.
Os pólens
Traços deixados pela coroa de espinhos
Obotânico israelense Uri Baruch analisou o pólen achado no Sudário e concluiu que ele provém de plantas que só podem ser encontradas numa única localidade do mundo: a região de Jerusalém. E numa única época do ano: os meses de março e abril. Um desses pólens corresponde à espécie Gundelia tournefortii, que, segundo os especialistas, teria sido utilizada na confecção da coroa de espinhos. Pólens desta e de outras espécies também foram encontrados no chamado Sudário de Oviedo, um lenço guardado na cidade do mesmo nome, na Espanha. De acordo com vários estudiosos, essa peça de linho, de 83 por 52 centímetros, teria sido colocada sobre o rosto de Jesus, já recoberto pela Síndone. De fato, o Evangelho de João refere-se a mais de um pano funerário (capítulo 20, versículos 6 e 7) e as pesquisas mostraram que os vestígios presentes nos dois tecidos coincidem perfeitamente. Entre esses vestígios, foram identificadas 70 manchas de sangue, que se sobrepõem de maneira exata. Como a existência do Sudário de Oviedo é documentada desde o século 8, os pesquisadores israelenses concluíram que o lençol de Turim não poderia ser posterior a essa data.
A existência dos pólens orientais não é novidade para os estudiosos. Em 1973, o criminologista suíço Max Frei recolheu diversas amostras do pó acumulado entre as fibras do Sudário. E constatou a existência de pólens de nada menos que 58 variedades diferentes de plantas. Algumas dessas plantas são comuns na França e Itália — o que não causa surpresa, já que durante muito tempo o lençol ficou abrigado nessas regiões. Mas há também pólens de plantas características da Turquia oriental, confirmando a tradição de que, antes de chegar à Europa, o Sudário permaneceu durante séculos em terras bizantinas. Mais importante ainda: em sua lista, Max Frei identificou pólens não de uma ou duas, mas de várias espécies de plantas que são típicas da região de Jerusalém ou em outras áreas dos territórios israelense e palestino.
As marcas da agonia e do sepultamento A morte na cruz era causada por lenta asfixia, provocada pela posição dos braços. A imagem do Sudário mostra que o homem se ergueu várias vezes para tomar ar. Visando acelerar a morte, era costume quebrar as pernas dos condenados, impedindo tal movimentação. Isso não ocorreu neste caso – o que concorda com o relato dos Evangelhos, segundo os quais nenhum de seus ossos foi quebrado A estocada de lança, que era um golpe de misericórdia, ocorreu quando o homem já se encontrava morto. O Sudário mostra que ela produziu um forte jato de hemácias (a parte vermelha do sangue), seguido de um fluxo de plasma (a parte clara) – prova de que grande quantidade de sangue se acumulou e decantou no pericárdio. Isso converge com a texto bíblico, que fala num jorro de "sangue e água" A deposição da cruz também ficou registrada no pano de linho. Nas manchas de sangue existentes na região dos pés, percebe-se nitidamente as marcas dos dedos das mãos de uma das pessoas que sustentou o morto na descida do patíbulo. "Seriam os dedos do apóstolo João?", perguntam-se alguns estudiosos O sepultamento foi feito após uma preparação sumária do corpo. Se ele tivesse sido lavado, conforme o costume judaico, o sangue não haveria manchado o Sudário. Também aqui há uma convergência com a descrição bíblica, que sugere um apressamento dos ritos funerários, devido à aproximação do Shabat, o dia do repouso judaico, que começa a ser contado a partir do crepúsculo da sexta-feira. A proximidade entre o queixo e o peito, na imagem formada na Síndone, deve-se ao fato da cabeça do morto ter sido apoiada sobre um suporte. Embaixo, o corpo envolto no lençol. E o Sudário – sem o seu conteúdo –·encontrado pelos discípulos |
A face de Cristo em reconstituição tridimensional |
Os ícones
Feições semíticas e barba
Por volta do século 4, ocorre uma mudança radical na representação artística de Cristo. Ele deixa de ser mostrado como um homem imberbe, com penteado romano, e passa a ser representado com feições semíticas e barba. Isso coincide com a descoberta do chamado Mandylion de Edessa, que muitos pesquisadores identificam com o Sudário.
Uma das primeiras obras artísticas dessa nova fase é o Cristo Pantocrator do Sinai, pintado no século 6 e conservado até hoje no mosteiro de Santa Catarina, no Egito. Esse ícone ainda impressiona pelo realismo, beleza e majestade. Utilizando uma sofisticada técnica de superposição de imagens, o pesquisador americano Alan Whanger, da Universidade de Durham, na Carolina do Norte, obteve nada menos do que 170 pontos de congruência entre sua figura e a face impressa na Síndone. Isso sugere que, mais de sete séculos antes da época atribuída ao Sudário pela datação do carbono 14, o artista que pintou o ícone pode tê-lo utilizado como modelo.
Ainda mais impressionantes são os 250 pontos de congruência existentes entre a imagem da Síndone e o chamado Cristo Pantocrator de Dafne, um mosaico bizantino que domina a cúpula da igreja do Mosteiro de Dafne, situado entre Atenas e Elêusis, na Grécia. Ele foi produzido por volta do ano 1100 — portanto, de 160 a 290 anos antes das datas estabelecidas pelo carbono 14.
Às portas do ano 2000, o pano que inspirou essas obras de arte continua desafiando a inteligência humana. A seu respeito foram escritos mais de 500 livros. E ele já foi investigado pela ciência como nenhum outro objeto existente na Terra. Cada nova tecnologia desvendou nele um detalhe ainda mais surpreendente. Seu mistério e fascínio parecem inesgotáveis.
O termo grego Pantocrator pode ser traduzido como " Todo Poderoso" . A figura do Cristo Pantocrator é o tema mais difundido na arte bizantina
“José de Arimatéia...foi procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo... Recebendo o corpo, José O envolveu em um lençol ainda não usado”. (Mt 27:57-61)
Como é bem sabido, durante as perseguições dos primeiros séculos, as comunidades cristãs guardavam cuidadosamente as relíquias dos mártires. Segundo São Nino (306 a 337), a mulher de Pilatos teria entregado o Sudário a São Lucas e esse a São Pedro, que o guardou.
A iconografia dos primeiros cristãos divergia da figura do Sudário, pois para os judeus qualquer material que entrasse em contato com cadáveres era material impuro. Nosso Senhor era representado como Bom Pastor, o médico taumaturgo e o mestre e juiz, geralmente segundo o modelo clássico do Apolo pagão.
Mas já no século II, a Sagrada Face era venerada em Edessa. Tudo indica que era o Sudário dobrado, expondo a face de Nosso Senhor. Uma análise recente constatou que realmente essa área do Sudário ficou mais exposta que as demais áreas.
Há uma história tradicional na qual em Edessa havia um rei chamado Abgaro, cujo corpo foi coberto pelo Sudário, e foi curado de uma doença, se convertendo ao cristianismo, assim como seu povo.
A partir dessa época, a iconografia começa a apresentar Nosso Senhor com barba.
O que é certo é que uma imagem de Cristo, procedente de Jerusalém, era venerada em Edessa nos primeiros séculos.
Em 525, era conhecida a imagem de Edessa como Mandylion acheiropoieton: pequena tela não pintada por mão humana.
Evagrio, em sua História Eclesiástica, nos conta que em 544 os edessenos venceram uma batalha contra as tropas persas que cercavam a cidade, depois de uma procissão do Mandylion pelas muralhas, quando o fogo tomou conta das armas inimigas e os persas tiveram de fugir.
A partir dessa época (séc VI), a arte sacra começa a copiar a sagrada face em numerosos detalhes.
Dois quadros hoje guardados no ocidente, em Sancta Santorum (Roma) e na Igreja de São Bartolomeu, em Genova e ainda o Rosto Sagrado em Pescara, entre outros, já apresentam as mais fortes características de cópia do Mandylion:
- 3 mechas de cabelo na testa
- um dos supercílios mais alto que o outro
- um “V” acima do nariz
- barba bipartida
- cabelo longe da face
- face inchada
- uma risca transversal na testa
- uma sobrancelha direita erguida
- narina esquerda inflamada
- uma linha saliente entre o nariz e o lábio superior
- uma linha grossa sob o lábio inferior
- uma linha transversal na garganta
Durante exposição, em 1898, o fotógrafo amador e advogado Secondo Pia fotografou pela primeira vez o Sudário. Ao revelar o filme, percebeu que as impressões do corpo começaram a assumir nitidez e profundidade inesperadas. A imagem foi impressa, inexplicavelmente, em negativo, ou seja, as partes sombrias tornaram-se claras e as luminosas, escuras. Nenhum artista poderia tê-la pintado assim. A partir daquela descoberta casual seguiram-se muitos estudos e exames fotográficos, fotométricos, radiológicos, químicos e médico-legais.
A ciência apurou que não se trata de uma pintura, que as manchas de sangue contêm verdadeiro sangue humano, e que as feridas do corpo martirizado atestam uma crucificação romana.
Para os cientistas, o Sudário é um mistério, pois as impressões daquele Homem estão gravadas em negativo com efeito tridimensional, enquanto as manchas de sangue são gravadas em positivo. Seguramente o lençol envolveu o cadáver de um homem martirizado, flagelado, coroado de espinhos, crucificado com cravos, com o lado traspassado, apresentando escoriações no joelho esquerdo, causado por queda, feridas, inchaços, sangue coagulado no rosto e septo nasal quebrado.
Consultores
Esta reportagem contou com a inestimável consultoria de dois pesquisadores brasileiros do Sudário: o cirurgião buco-maxilo-facial Nobol Fukushima e a psicóloga e teóloga Maria Beatriz Ribeiro Gandra. A eles os nossos agradecimentos
Fontes: |
Livros - O Sudário, de Emanuela Marinelli, Ed. Paulus
- A Verdade sobre o Sudário, de Kenneth Stevenson e Gary Habermas, Ed. Paulinas
- O Santo Sudário, de Ian Wilson, Ed. Melhoramentos
- The Mysterious Shroud, de Ian Wilson e Vernon Miller, Ed. Image/Doubleday
- Sindone, la Prova, de Pierluigi Baima Bollone, Ed. Mondadori
Internet |
A saga do lençol, dos discípulos aos cavaleiros templários Um longo intervalo separa a morte de Jesus da aparição do Sudário na França, em 1356. Essa lacuna é preenchida quando se associa o lençol ao Mandylion, uma relíquia venerada em Bizâncio durante séculos. Que objeto era esse? Diz uma lenda que o próprio Jesus enviou a Abgar V, soberano de Edessa (atual Urfa, na Turquia), um retrato seu, criado milagrosamente, quando enxugou o rosto numa toalha. Esse pano, conhecido como Mandylion, serviu de modelo para a arte bizantina. Vários pesquisadores crêem que o Mandylion era o próprio Sudário. Para ocultar sua natureza de lençol mortuário, seus guardiães o dobraram e puseram num relicário, deixando visível apenas o rosto. Essa hipótese explica a semelhança existente entre os ícones bizantinos e o Sudário. E permite construir a seguinte cronologia: 30 d.C. – morte de Jesus. O discípulo Tadeu leva o Sudário a Edessa; 57 – perseguição aos cristãos em Edessa. O lençol é escondido num nicho; 525 – inundação de Edessa. Durante a reconstrução, o Mandylion é descoberto; 639 – conquista de Edessa pelos muçulmanos. O culto ao Mandylion é preservado; 943 – cerco de Edessa pelos bizantinos. Estes prometem poupar a cidade em troca do Mandylion. Após muita relutância, os muçulmanos entregam a relíquia;944 – chegada triunfal do Mandylion a Constantinopla; 1201 – um inventário de relíquias bizantinas refere-se claramente ao Sudário;1204 – os cruzados saqueiam Constantinopla. O Mandylion (ou Sudário) é ocultado pela Ordem dos Cavaleiros Templários; 1306 – Jacques de Molay, grão-mestre da ordem, leva o tesouro dos templários para a França; 1314 – os templários são queimados como hereges; 1356 – Geoffrey de Charny, parente de um dos mestres templários, doa o Sudário à igreja de Lirey; 1357 – primeira exposição pública do Sudário na França. |
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