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FUNDAMENTALISMOS...

por Zulmiro Sarmento, em 24.01.10

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publicado às 08:00

Um Domingo, um pensamento (III Tempo Comum - Ano C)

por Zulmiro Sarmento, em 24.01.10

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publicado às 08:00

DEUS ANDA PELO HAITI

por Zulmiro Sarmento, em 23.01.10

1. Este é um daqueles momentos em que ficamos (mesmo) sem palavras.
E ainda que as houvesse, mais valia que as guardássemos para nós.

Que palavras haverá para descrever um horror desta magnitude? Que palavras sobrarão para amenizar uma tragédia desta dimensão?
A morte pertence ao silêncio. Aliás, nas línguas semitas, as letras com que se escreve palavra são as mesmas com que se escreve peste: d, b, r.
Isto não deixa de ter um significado acrescido nos tempos que correm. Não são, tantas vezes, as palavras que empestam a nossa convivência?
Pode a morte ser dita? Como falar do que aconteceu no Haiti?
Bastaram 35 segundos para ceifar dezenas (quiçá centenas) de milhar de vidas!

2. Quando a terra treme, o coração estremece. São bem frágeis, de facto, os tentáculos que nos ligam à terra e nos prendem à vida.
Muitos projectos podem ser feitos. Muitos sonhos podem ser sonhados. Basta que a terra abale e tudo cai. Literalmente.
É bem pertinente o que disse Fernanda Winter: «Deus perdoa sempre, o Homem perdoa às vezes, a natureza não perdoa nunca».
E não selecciona ninguém. Devora grandes e pequenos. Engole idosos e crianças. É cruel o seu império. É sumamente impiedosa a sua eficácia.
Mas é nestas alturas que mais vêm ao de cima as desigualdades que nos envolvem.
Fazemos todos parte da mesma (e única) humanidade, mas, nesta aldeia em que se transformou o mundo, parece que há homens mais iguais que outros.
Já tem havido terramotos com maior intensidade que o ocorrido no Haiti sem qualquer vítima.
Como é óbvio, um país pobre e desgovernado, com construções vulneráveis, fica muito mais exposto.

3. Muita gente, em ocasiões como esta, volta-se — e, por vezes, revolta-se — contra Deus.
Porque é que Deus não intervém? Porque é que não avisa? Porque é que consente tudo isto?
Nem os que estavam a rezar escaparam. A catedral de Port-au-Prince foi devassada tendo morrido quantos lá se encontravam.
Também não escapou o bispo da diocese. Como não escaparam os sacerdotes, os religiosos, os seminaristas e tantos leigos.
É nestas alturas que mais dói o silêncio de Deus. Apetece-nos interpelar com S. Gregório de Nazianzo: «Oh Tu, o além de tudo, não será tudo o que se pode dizer de Ti?»
Não nos esqueçamos que o próprio Papa deu voz a todo este clamor numa pungente alocução que proferiu em Auschwitz.
«Porque é que Deus Se silencia? Como pode tolerar o excesso de destruição e o triunfo do mal? Desperta, Senhor, porque dormes? Desperta e não nos rejeites para sempre! Porque escondes a Tua face e Te esqueces da nossa miséria e tribulação?».
Como sucedeu na segunda guerra mundial, também no drama do Haiti é a humanidade que atravessa um espesso «vale escuro».

4. Onde esteve Deus em Auschwitz? Onde estava Deus no Haiti?
Deus quanto mais Se revela mais Se esconde e quanto mais Se esconde mais Se revela.
Apesar da obscuridade que, muitas vezes, adorna a Sua presença, eu vi Deus no Haiti.
Vi Deus no Haiti, perdido nas ruas, a embalar as crianças, a afagar o pranto, a acariciar as feridas, a receber os mortos.
Vi Deus no Haiti a tentar semear um sorriso em tantos rostos magoados de dor e regados de lágrimas.
Vi Deus no Haiti. Vi Deus a correr. Vi Deus a chorar. Vi Deus a soluçar. Vi Deus de joelhos, a sangrar, entre os escombros.
Deus não precisa de sofrer. Ele sofre porque quer, porque ama. Ele não sofre por carência de ser. Ele sofre por superabundância de ser. Ele pode tanto que, por amor, pode fazer Seu o nosso sofrimento, a nossa penúria.
Dói muito estar no fundo do poço. Mas, como afirmou Etty Hillesum, na humanidade, «há um poço muito fundo. E lá dentro está Deus, soterrado. Então é preciso desenterrá-Lo».
Deus também ficou soterrado no Haiti. Desenterremos Deus com a nossa oração, a nossa solidariedade, o nosso amor.
Sejamos humanos uns para com os outros enquanto podemos. Pois não sabemos por quanto tempo podemos.
O amor não pode esperar!

João António Pinheiro Teixeira
padre


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publicado às 08:00

Viver o ecumenismo no casamento

por Zulmiro Sarmento, em 22.01.10

Um pastor presbiteriano e uma catequista católica falam da sua relação e das reacções que suscita

Foi na Universidade Católica Portuguesa que se encontraram, em Lisboa. Pedro Brito, de 36 anos, e Elizabete Francisco, 34, casaram no passado dia 15 de Novembro, depois de seis anos de namoro, numa cerimónia celebrada pelo Pe. Carlos, jesuíta, e pela pastora Eva Michel, presbiteriana. Em comum, o facto de serem cristãos e o amor que os une, num casamento especial: ele é pastor presbiteriano, ela católica, catequista.
Agência ECCLESIA - Nunca foi um problema serem de confissões diferentes?
Pedro - As raízes da minha família sempre foram católicas. Nunca tive nenhum problema com a Igreja Católica. Costumo dizer, a algumas pessoas que estou mais próximo da Elizabete do que de muitas pessoas da minha confissão.
AE - Porquê?
Pedro - Em termos de ideias. O fundamental para nós é Cristo e tudo o que é em torno de Cristo. Tudo o que cerca não é fundamental. Focamo-nos nesse aspecto. Por vezes debatemos questões confessionais, mas mais na perspectiva de cada um compreender a perspectiva do outro. No fundamental estamos muito unidos.
AE - Nas celebrações litúrgicas como se organizam?
Elizabete – Cada um faz a sua oração pessoal. As orações comuns acontecem antes da refeição. Eu sigo sempre um rito católico, geralmente termino as minhas orações com «glória ao Pai» e o Pedro diz sempre «Em nome de Jesus Cristo» e respondemos «Amen». Quando temos visitas nota-se a diferença se é um ou outro a conduzir a oração.
AE - E a celebração de Domingo? O Pedro tem responsabilidades pastorais...
Pedro – Cada um vai à sua Igreja. Sou pastor e tenho os meus serviços. Tenho duas igrejas a meu cargo e a Elizabete frequenta a Igreja Católica.
Elizabete – O mais interessante é que trabalhamos na mesma comunidade. Sou enfermeira e frequento a igreja católica das Alhadas, onde dou também catequese. No início colocavam-se muitas questões: «Então, o pastor deixa ir a sua mulher à Igreja?». Com naturalidade, os rituais continuam como cada um sempre os realizou. Eu sempre o conheci como protestante e ele sempre me conheceu como católica.
Pedro – Por vezes, na igreja onde eu vou, as pessoas perguntam-me pela Elizabete e alguns dizem que ela, como eu sou pastor, deveria ir comigo. Mas eu acho que não há razão nenhuma para ela sair da sua confissão. O ideal era que as duas igrejas se unissem. Como isso ainda não aconteceu temos de respeitar. Acredito que não faltará muito tempo para o Cristianismo encontrar outras formas de união. Isso está já a acontecer em alguns locais da Europa - ser comunidade de Cristo fora das instituições. Não à margem, mantendo as tradições, mas encontrando formas inovadoras.
AE – É possível ver para além da própria identidade institucional?
Elizabete – Existem jovens que se reúnem em Lisboa e são um exemplo real: uma comunidade que se reúne, em que rezam todos juntos. Identificam-se como cristãos que rezam.
Pedro – O Cristianismo tem de passar pela comunidade. Não há cristianismo individualista.
AE - A vossa vivência é um exemplo de que é possível a união?
Elizabete - Há amigos que acham interessante. O nosso dia-a-dia passa para as outras pessoas e nós nem nos apercebemos. Fazemos com simplicidade, tal como os outros casais. A base é o respeito. Não é muito diferente de outros casais.
AE - E os filhos?
Pedro – Essa é a pergunta clássica. Quando dizemos que eu continuo protestante e a Elizabete católica as pessoas compreendem. Mas surge a questão de onde educar os filhos. Nós não sabemos. O que interessa é o que continuamos a fazer. Nós relacionamo-nos bem e a nossa fé não está separada do que somos. A Elizabete surgiu na minha vida porque Deus a pôs na minha vida. Se os filhos chegarem vamos continuar focados no mesmo tipo de relação que temos até agora e que ultrapassa as confissões.
Perguntam-me como pastor que exemplo darei se os meus filhos não forem à minha Igreja ou «Como é que vou ter crianças na escola dominical se os teus filhos vão à catequese?» Se eu souber que na Igreja Católica ensinam melhor a Bíblia e o Evangelho de uma forma mais autêntica e verdadeira, porque não?
AE - Na prática serão eles a escolher quando forem mais velhos?
Elizabete – Não. Tem de haver uma educação desde o início. Desde a concepção ou desde a nascença existe já uma relação dessas pessoas com Deus. Se os pais são crentes, estes vão naturalmente introduzi-la na relação com Deus. O mais importante é desenvolver esta relação. Quanto à confissão, não sei. Vejo tantos que foram educados na Igreja Católica ou Protestante e depois professam outra coisa ou são agnósticos ou ateus. A educação será feita com a presença de Cristo.
AE - A comunidade presbiteriana questiona a vossa relação?
Pedro – Está demasiado enraizado, acho que culturalmente, que o pastor tenha de ter uma mulher que, não sendo oficialmente pastora, o ajude. Na Igreja presbiteriana eu não conheço outro casal que tenha outra pessoa tão empenhada como a Elizabete é na Igreja dela. Eu sempre tive uma postura de relativização perante a instituição. O que é importante é anunciar Cristo e o Evangelho. A Elizabete ajuda-me muitas vezes teologicamente.
Elizabete – Eu sinto-me querida nas comunidades protestantes. Sempre me senti muito acolhida. No colectivo poderão surgir algumas questões, mas penso que mais culturalmente.
Pedro – O nosso testemunho é o amor que nos une aos dois e depois a Deus. A história vai-se fazendo.
AE - Até que ponto a aproximação entre as igrejas cristãs é efectivo?
Pedro - Há de facto um trabalho feito nos últimos anos. Mas o diálogo ecuménico estagnou. As pessoas continuam presas às suas instituições. O objectivo cimeiro do movimento ecuménico é que a unidade fosse visível. E isso não se vislumbra. Penso que seria essencial que o diálogo nas cúpulas tivesse caminho por onde andar e não vejo isso. O movimento ecuménico vai continuar a existir pela base e através da formação de comunidades.
Elizabete – Quando todos participarmos da mesma mesa, aí seremos uma comunidade visível e os entraves serão ultrapassados. Enquanto isso não acontecer, temos ainda um grande caminho para fazer. 
 
in ECCLESIA

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publicado às 08:00

Solta a alegria do teu coração

por Zulmiro Sarmento, em 21.01.10

Estamos vivendo num mundo que me parece cada vez mais triste. Os rostos das pessoas manifestam claramente um "vazio" que está invadindo a sociedade.
Creio bem que o tecnicismo e o materialismo, o indiferentismo, são as grandes causas desta trágica situação. Somos todos convidados a viver e a partilhar a alegria. Alegria que vem de dentro e que não parte do ter tudo, do ter muito, dos "berros" mais ou menos controlados e alguns "bem afinados" nos palcos deste país, que aliás se tem tornado palco em pleno em programas TV que são de louvar.
Lá está a alma do povo, do povo crente, do povo que sabe o que anda a fazer nesta vida terrena, num tempo de peregrinação que nos é dado por Deus para viver. O grande mal, já dizia e repetiu, o italiano então Padre Bruno, hoje Bispo, em várias conferências do Congresso Missionário Mundial, em Roma, no ano 2000, no qual tive ensejo de estar presente com representantes de 123 países: "Este mundo caminha para o abismo porque rejeitou Deus e sem Deus a vida não tem sentido".
Numa das minhas passagens pelo Japão senti que as pessoas iam apressadas na rua como autênticos "robots". Se impera a técnica e se se rejeita Deus, o outro homem não passa de um inimigo a abater quando nos incomoda ou tenta superar-nos. Infelizmente é o que vemos numa Europa sem Deus, sem princípios, desnorteada, transgressora dos que a pensaram e estão na base da União Europeia. O homem abaixou-se e degradou-se até se ouvir dizer: "O que era imoral há 40 anos, hoje declara-se moral". Declara-se moral porque é agradável e até se fazem leis contra os princípios da natureza humana. Não esqueçam, os que têm os "neurónios afinados", que essas leis aprovadas por Assembleias, que de modo algum estão nesses casos a representar o povo e a fazer uma sociedade saudável, não estão obrigados a aceitá-las. Devem respeitar a vida e o casamento, por exemplo. O resto é o agradável e o prazer transformado em lei. Todos temos dentro de nós a capacidade de libertar a alegria numa vida pautada pelas leis da natureza. Agredir a natureza é ferir essa capacidade de ser alegre. E como diz , e muito bem, o nosso povo: "Deus perdoa e esquece sempre, o homem às vezes, mas a natureza vinga-se". E já se estará vingando com tantas centenas de milhares de mortos como nestes dias no Haiti, um dos países mais pobres do mundo.
Participemos do que dá verdadeira alegria, integremo-nos em movimentos de ajuda e solidariedade, demos até do que nos faz falta e não roubemos as pessoas nem a nação. Façamos algo que alegre e encante e oremos a Deus com profundidade. Sentir-nos-emos bem. O nosso coração precisa de alegrias intensas e celebremos as festas familiares, as festas dos santos nas aldeias, o convívio das romarias, a penitência das grandes peregrinações, as horas litúrgicas e os momentos de lazer
e repouso. O coração quer a felicidade, precisa das emoções fortes da alegria, quer usufruir ao máximo da paz a que tem direito.
Solte a alegria do seu coração. A alegria que pulsa no coração é fonte de vida eterna.

Armando Soares
in ECCLESIA

 

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publicado às 08:00

O teste da banheira

por Zulmiro Sarmento, em 20.01.10

Durante a visita a um hospital psiquiátrico, um dos visitantes
  perguntou ao director:
  

- Qual é o critério que usam para decidirem que alguém precisa de ser
  internado aqui?
  

- É simples - respondeu o director, e prosseguiu:
  
- Enchemos uma banheira de água e oferecemos ao doente uma colher, um
  copo e um balde e depois pedimos-lhe que a esvazie. De acordo com a
  forma como ele decida realizar a missão, nós decidimos se o
  hospitalizamos ou não.
  
- Entendi - disse o visitante -, uma pessoa normal usaria o balde, que
  é maior que o copo e a colher.
  
  - Não - respondeu o director - uma pessoa normal tiraria a tampa do
  ralo.  O que é que o senhor prefere? Quarto particular ou enfermaria?
  

...
  
  
  Dedicado a TODOS  os que escolheram o BALDE...

 

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publicado às 08:00

Conclusões do Congresso Internacional sobre o presbítero «À escuta da Palavra»

por Zulmiro Sarmento, em 19.01.10

 

Notas Prévias
A. O primeiro Congresso sobre o Sacerdócio do século XX, em Portugal, foi realizado em Braga, em 25 de Outubro de 1905. O primeiro do século XXI, sendo de cariz internacional, também foi realizado em Braga, de 12 a 15 de Janeiro de 2010, comemorando 450 anos da fundação do Colégio de S. Paulo, actual edifício do Seminário Conciliar.
B. Os congressistas tiveram uma singular oportunidade de, em conjunto, rezar, cantar, reflectir, dialogar, tomar refeições em comum, conviver, presenciar e participar em manifestações artísticas, mormente de índole musical, poética e teatral.
C. Atentos ao acontecimento do terramoto ocorrido no Haiti, os congressistas manifestaram a sua profunda vizinhança e comunhão com os sobreviventes e imploraram a Deus o repouso eterno para os numerosos falecidos.
D. O número de participantes superou as três centenas de presbíteros, vindo alguns de outras dioceses. Inscreveram-se também umas três dezenas de leigos.
E. A cobertura dos meios de comunicação foi bastante ampla, tendo-se utilizado, com proveito e eficiência, as novas tecnologias de comunicação.
F. O texto de Heb 2,17 foi a fonte de enraizamento bíblico que inspirou a multiplicidade de comunicações e testemunhos:
«Deve em tudo aos seus irmãos ser semelhante, a fim de misericordioso se tornar e fidedigno Sumo Sacerdote nas coisas para com Deus para propiciar os pecados do povo».
Realçamos, pois, as seguintes conclusões:
1. O presbítero dos nossos dias encara as transformações do mundo e seus reflexos na Igreja como soberana oportunidade para se dar conta de que o seu ministério é fundado sacramentalmente: compete-lhe manifestar claramente aos olhos dos outros fiéis que só um é Senhor da Igreja, só um a orienta e apenas um possui nela a Palavra - Jesus Cristo.
2. No ministério eclesial, não se coloca uma autoridade humana no lugar de Cristo, mas é Ele mesmo tornado presente sacramentalmente, um sinal eficaz que para Ele aponta e no qual Ele próprio garante agir.
3. O presbítero encaminha, pela palavra, sacramentos e prática da sua vida, os outros fiéis para a única cabeça da Igreja, para Cristo.
4. Toda a acção eclesial é, no sentido mais vasto, sacramental, isto é, acção representativa. Nela se realiza, se exprime, se corporiza aquilo que o próprio Deus realiza com os humanos. Por isso, só é autêntica quando dá corpo à acção de Cristo, à acção de Deus, e a torna simbolicamente visível.
5. É Deus que age na Igreja. É errado organizarmos as actividades eclesiais em função do êxito, do número. O que realmente conta é a disponibilidade para o envio sacramental, nomeadamente no anúncio da Palavra e, em sinais eficazes, chamar seres humanos para o Povo de Deus e acompanhá-los no caminho do seguimento do Senhor, dando-lhes coragem para o envio no mundo. “Êxito não é nenhum dos nomes de Deus” (Martin Buber).
6. O cerne do ministério presbiteral está em ser indicação sacramental, nos pontos nevrálgicos da vida Igreja, da comunhão entre Deus e o ser humano; e dos homens entre si. Celebrar a comunhão eucarística, sem procurar viver, - pelo menos com o mesmo peso - a comunhão quotidiana, e sem realizar a missão no interior do mundo, é algo perverso.
7. As novas realidades do nosso mundo exigem novas formas de ser presbítero. O ministério eclesial tem que ser colegial. É-se bispo no colégio dos bispos; é-se presbítero no presbitério. Quem possui o ministério da unidade deve agir unido. Mais, deve, quanto possível, viver conjuntamente, como exigia Santo Agostinho aos seus padres.
8. O padre tem de ser um homem de Deus, um mistagogo que conhece o mistério de Deus, o vive em comunhão, o celebra e o comunica com entusiasmo e alegria.
9. Anuncia uma Palavra salvadora, eficaz, de futuro e de esperança. Fá-lo com paixão por Aquele que é a Palavra e comprova a verdade do seu testemunho na compaixão pelos irmãos, verdadeiro caminho de paz e unidade. Segundo o Novo Testamento, Cristo é Sacerdote por assemelhação com os seus irmãos e não por separação.
10. É um sacerdote que incorporou a absoluta necessidade de formação permanente para possuir uma formação superior à média e poder responder com propriedade aos desafios completamente novos dos nossos dias.
11. É um padre que dedica muito tempo à formação dos leigos, não só para que a sua fé seja cada vez mais esclarecida e luminosa, mas para que desempenhem, com verdadeiro espírito missionário, as múltiplas tarefas que lhes são próprias: na família, na sociedade e na Igreja.
12. A unção do Espírito Santo, que a imposição das mãos realiza, é para que, pela acção do presbítero, aquilo que o baptizado já é sacramentalmente, se realize existencialmente, também na promoção dos diversos ministérios – nomeadamente o diaconado permanente – e em estilos de vida comunitária cada vez mais colegiais.
13. Os seminários, numa atitude maternal, devem acolher com benevolência os candidatos e saber exigir, com docilidade e firmeza, uma formação humana, espiritual, pastoral e cultural muito sólida, ancorada ainda no compromisso da formação permanente.
14. As pessoas manifestam, em esmagadora maioria, o desejo de que os sacerdotes tenham grande disponibilidade para ouvir e atender, acompanhar e aconselhar, serem alguém em quem se confia plenamente.
15. Comunicar é serviço; não é protagonismo. Mas exige séria formação. Só assim poderá haver celebrações, sobretudo da eucaristia, que sejam espelho de uma comunidade salva e agradecida. Homilias curtas, incisivas e cobrindo os pontos essenciais.
A hora de mudança e de transformações rápidas na sociedade e na Igreja exige claramente novos modos de organização da vida eclesial e novos estilos diversificados de exercício do ministério presbiteral. Os caminhos a percorrer e as decisões a tomar hão-de ser procurados, em comunidade, na escuta atenta da Palavra que nos salva e do seu rumor nas plurais palavras humanas.
 

 

Braga, 15 de Janeiro de 2010
in ECCLESIA

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Leigos sugerem pistas de reflexão aos sacerdotes

por Zulmiro Sarmento, em 18.01.10

 

Converter os novos pagãos só com anúncio surpreendente

Um grupo alargado de leigos da Arquidiocese de Braga entregou ontem no Congresso Internacional sobre o Presbítero algumas sugestões para que a Igreja em geral e os sacerdotes em particular reflictam no decurso deste Ano Sacerdotal. Insistindo na tónica constante e transversal deste congresso - o padre deve apostar mais na espiritualidade e menos na gestão organizacional -, os porta-vozes de algumas paróquias da Arquidiocese, escolhidas por terem características diversas, frisaram que, no mundo actual, a conversão dos «novos pagãos» só se consegue «através de um anúncio surpreendente, feito por um ministro de Deus que testemunhe na vida a proximidade com quem o enviou e a quem foi enviado». Nas conclusões do congresso, que encerrou com uma missa na igreja do Seminário Conciliar (na foto), reconhece-se que «as novas realidades do nosso mundo exigem novas formas de ser presbítero» e que este tem de estar em «formação permanente» e dedicar «muito tempo à formação dos leigos».

Texto, Álvaro Magalhães
Foto, Avelino Lima
Jornal Diário do Minho

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publicado às 08:00

Cristãos pedem mais tempo e coragem aos sacerdotes

por Zulmiro Sarmento, em 17.01.10

 

Os cristãos reivindicam mais atenção por parte dos seus guias espirituais e, por isso, querem padres com mais tempo para os escutar. Por outro lado, é exigida mais preparação e coragem aos presbíteros, para que aproveitem todas as oportunidades, inclusive as mediáticas, para apresentarem um rosto de uma Igreja preocupada com os que sofrem e que está ao lado dos mais pobres. Estas são algumas das conclusões da mesa redonda realizada ontem no Congresso sobre o Presbítero, que juntou em Braga Marcelo Rebelo de Sousa, Fátima Campos Ferreira e Isabel Jonet.

Texto, Álvaro Magalhães (com Ecclesia)
Foto, Avelino Lima

Jornal Diário do Minho

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publicado às 08:00

Para vencer a injustiça é preciso vencer o medo

por Zulmiro Sarmento, em 16.01.10

1. A esta hora já nos apercebemos de que não é a simples passagem de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro que opera a mudança por que tanto sonhamos.
A mudança no tempo não introduz, por si só, a mudança na vida. No fundo, o futuro acaba por ser uma sucessão do presente, quando devia ser uma construção do presente.
Já há muitos anos, Albert Camus nos alertara: «A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo no presente».
Hoje em dia, o sentimento geral é de resignação. Basta olhar para a face das pessoas e para o esgar de abatimento que se desprende do olhar.
Tudo somado, acabamos por ser o que não queremos e por não querer o que somos.
A nossa maneira de ser — e de estar — é como o clima nesta época: frio. Aliás, não é preciso fazer grandes balanços. O nosso rosto diz tudo.

2. Sentimo-nos pequenos diante do peso da realidade. Arrepiamo-nos perante o mal e sobretudo perante a injustiça, mas que fazemos?
No fundo, entramos na engrenagem. Lamentamos a situação, mas a filigrana com que nos é apresentada invade-nos e como que nos entorpece.
Temos uma espécie de calculadora interior que nos dita as regras. Ela diz-nos que, se não queremos ser postos de lado, temos de aceitar as regras do jogo. Mesmo que se trate de um jogo tecido pela iniquidade.
José Gil disse, há não muitos anos, que, «sem justiça, não é possível a democracia». Não é possível a democracia e é impossível a vida.
No entanto, que estamos dispostos a fazer para terminar com a justiça? Muitas vezes, acabamos por contribuir para que ela se difunda.
Umas vezes, é a indiferença filha do cálculo. Achamos que o mundo é uma máquina e não um corpo. Um corpo tem coração. Uma máquina tem peças. Quando as peças não funcionam, deitam-se fora e substituem-se por outras.
O pragmatismo impõe-nos que aceitemos as coisas tal como elas aparecem. Nada disto é sadio, mas tudo isto é aceite.
Quem ergue a voz fica marcado e é rapidamente silenciado. O mais que fazemos, então, é partilhar as nossas mágoas em privado, deixando-nos vergar pela injustiça em público.

3. Edgar Morin afirmou que cada progresso acarreta sempre um retrocesso. Salta à vista que o portentoso progresso tecnológico tem acarretado um perigoso retrocesso espiritual.
André Comte-Sponville adverte-nos que, na actualidade, a questão prioritária é a espiritualidade. É ela que nos leva a aterrar na nossa humanidade e na humanidade dos outros. Mas o imediato não se compadece com estas considerações.
Para vencer a injustiça, é preciso, acima de tudo, vencer o medo. É preciso, com feito, vencer o medo de perder o lugar, o medo de perder o prestígio, o medo de perder o aplauso.
Muita gente me tem dito, certamente com o melhor propósito, que não vale a pena incomodarmo-nos com o mundo. Primeiro, porque somos poucos e pequenos para tarefa tão grande. E, depois, porque tudo acabará por melhorar.

4. Acontece que este é um grande equívoco. A injustiça não acaba por inércia. É preciso fazer muito para que ela termine. Já para que a injustiça continue, basta uma coisa: não fazer nada.
Nunca é demais lembrar a severa admoestação de Edmund Burke: «Tudo o que é preciso para que o mal triunfe é que as pessoas de bem nada façam».
Como referia Luther King, o que dói não é só o grito dos maus; é também — e bastante — o silêncio dos bons, das pessoas de bem.
Para vencer a injustiça é preciso vencer o medo. O medo de falar, o medo de sofrer, o medo de ser criticado.
Ninguém, por si, é capaz de acabar com a injustiça. Mas todos podemos contribuir, pelo menos, para que ela não fique no esquecimento.
Pertinente é, pois, o apelo de Shirin Ebadi: «Se não podeis eliminar a injustiça, pelo menos contai-a a todos».
A injustiça gosta do silêncio, da cumplicidade. Calar diante da injustiça é ser conivente com ela.
Ergamos a voz contra a injustiça. Ergamos a voz pela justiça. E pelas vítimas da injustiça!

João António Pinheiro Teixeira
Padre

in ECCLESIA

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