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«Mas para nós, um dia novo surgiu: o dia da Ressurreição de Cristo. O sétimo dia acaba a primeira criação. O oitavo dia começa a nova criação. A obra da criação culmina, assim, na obra maior da Redenção. A primeira criação encontrou o seu sentido e cume na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 349).
De facto, estamos a viver a alegria pascal do oitavo dia – esse que inicia a vida cristã em plenitude – da ressurreição de Jesus Cristo.
Mas como poderemos manifestar esta alegria pascal jubilosa em tempos de crise? E que factores desta crise criam em nós condições ou condicionamentos para vivermos dessa alegria do oitavo dia pascal? Não será esta (apelidada) crise um bom factor para que se manifeste em nós mais verdadeiramente a alegria pascal de Jesus?
Vamos tentar, com um olhar sereno e sério, discernir (alguns) sinais de alegria pascal, bem como certos obstáculos em vivermos à luz da novidade contínua e eterna da alegria pascal trazida por Jesus com a sua Ressurreição.
* Crise económico/financeira ou vazio ético/cultural?
Diante da acentuação – quase paranóica! – de que estamos a viver uma crise resultante da capitulação do capitalismo e/ou na sequência da ruptura do comunismo, parece-nos que estamos, antes, a ter dificuldade em lidar com essoutro vazio (ou esvaziamento) de ideais, bem como com a falência das ideologias que estavam na base daqueles sistemas de índole económica.
Nota-se que há mentores ideológicos que perderam o pé na maioria das suas convicções mais arreigadas: começando pelos políticos de profissão, que, entretanto, viram desabar as suas ‘conquistas’ aureoladas; passando pelos sindicalistas que se aferram de tal modo às suas posições de subsistência agressiva, que quase se tornam uma espécie de inconsequentes mentais; acrescentando certos ‘pregadores’ da moralidade anti-capitalista, mas dos quais pouco sabemos se não têm fortunas em ‘paraísos fiscais’... Quanta gente vai sabendo esconder-se até que tudo se descubra e se saiba a verdade!
Cremos, entretanto, que há uma outra forma de ser e de estar na vida pública e/ou política: quando colocarmos no lugar que se deve a pessoa humana – tendo em conta mesmo as características de cada um dos sexos – e fazendo-a o centro de todas as decisões e não exaltando o endeusamento do Estado, que não tem rosto nem fome, e que – quantas vezes! – pode servir mais os intuitos de quem está no governo ou reger-se pelas ideologias de conveniência... sem Deus.
Perante este confronto não entendemos que a (dita) crise seja só de pão ou de dinheiro, mas antes de razões de viver, colocando os valores morais e espirituais entre os que estão na raiz da verdadeira crise mundial e civilizacional.
* Espalhar alegria é vocação cristã
Mesmo que tenhamos vivido e celebrado intensamente a Quaresma, a nossa condição cristã é a de estarmos em tempo pascal, pois Cristo não morre mais nem a liturgia celebra um morto, mas um vivo. Deste modo, o despojamento das roupagens secundárias pode e deve ajudar-nos a estarmos centrados no essencial, que é a vida de testemunho pela vitória de Jesus sobre o pecado (cujo símbolo é tantas vezes o dinheiro) e a morte. Esta experimenta-se quando nos deixamos submeter à lógica do ataque e não da paz, da vingança e não do perdão, da ofensa e não da ternura. Ora, na medida em que formos espalhando sinais de paz, de perdão, de ternura... estaremos a fazer florescer a alegria pascal de Jesus em nós e à nossa volta. Como cristãos temos de assumir esta exigência, urgentemente, pois de nós depende, afinal, que este mundo seja mais humano porque mais cristianizado com o nosso contributo activo. Assim o queremos e vamos tentar fazer.
Sílvio Couto
É COMO O VINHO DO PORTO, QUANTO MAIS VELHO, MELHOR.