Qualquer governo ou partido político tem todo o direito e autonomia para propor iniciativas que julgue mais convenientes para solucionar os problemas da sociedade, do país, para promover a justiça e a igualdade.
Parece‑me, contudo, desproporcionado que o partido do governo se fixe neste assunto dos casamentos homossexuais, quando há tantos problemas graves e gritantes na nossa sociedade actual, como seja a crise financeira e económica que está afectando gravemente as famílias e as empresas. Além do mais esta iniciativa, em vez de unir os portugueses para resolver os reais problemas do país, será seguramente um forte factor de divisão, fracturante como se diz. Dá, pois, a impressão de que se trata de uma distracção dos reais e mesmo clamorosos problemas que atingem algumas faixas sociais mais desfavorecidas.
Penso que todos nós esperamos dos partidos em geral e mais ainda do partido do governo, iniciativas que ajudem a resolver o «Inverno demográfico» por que passa a nossa sociedade, com o envelhecimento progressivo da população, dada a baixíssima taxa de natalidade; todos nós esperamos que o governo proteja a estabilidade da família e ajude a que os casais possam ter os filhos que desejam e não se sintam forçados a uma drástica limitação da natalidade por falta de ajudas sociais. Há países em que ter mais que um filho, significa quase ter um novo ordenado…
Digo isto sem nada que se pareça com discriminação em relação aos homossexuais. Todos, pelo facto de serem pessoas, merecem o nosso integral respeito e atenção, independentemente da orientação sexual, da raça, da ideologia ou do credo. A Igreja, seguindo os passos de Jesus, promove o respeito e acolhimento de todos, também dos homossexuais. Mas a justíssima causa de abolir as discriminações não pode justificar tudo. É que a nossa estrutural identidade é um valor a cultivar. A identidade não é uma questão de opção. Eu não sou homem ou mulher por escolha. Eu também sou o meu corpo e com ele devo aprofundar a minha identidade psicológica, afectiva, relacional. Parece‑me ser um grave erro antropológico equiparar uma união homossexual ao casamento e à família. A família é um património fundamental da humanidade que não pode ficar à mercê das disposições de qualquer campanha ocasional, em consonância com modas que pisam as fronteiras de algo que é não é substituível por qualquer outro tipo de relacionamento e união.
Estou‑me a recordar do caso da Inglaterra que encontrou um quadro legal para uma união estável de duas pessoas do mesmo sexo, com certos direitos por exemplo a nível dos impostos e das heranças. Fez tudo isto, mas sem dar o nome e o estatuto de «casamento» e de «família». Espero que o bom senso acabe por prevalecer, no respeito de todos, mas sobretudo da célula fundamental da sociedade que é a família, que não se pode reinventar a nosso gosto.
P. Manuel Morujão, SJ – secretário da Conferência Episcopal Portuguesa