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Desligar custa tanto! Que o diga o «Sr. Reitor»...

por Zulmiro Sarmento, em 19.09.07

          Setembro é geralmente o mês da mudança de cargo, sobretudo na Igreja. Uns que saem, porque a saúde ou idade lhes abriu a porta de saída. Outros porque, por razões várias, como por exemplo incompatibilidades com o povo, pensam ponderadamente que está na hora de iniciarem novas funções noutras terras, noutros lugares, noutros serviços muito mais próximos do seu feitio e habilidade. Mesmo sem ter completos os seis anos de provisão canónica. É estupidez saloia fazer finca pé no facto da provisão não ter finalizado o tempo... e de apenas sair com um processo disciplinar canónico (como se não houvesse matéria mais que suficiente para validar o dito processo!). Maldade comparável a um pecado contra o Espírito Santo.

           Hoje quero lembrar diante de Deus todo esse pessoal eclesiástico e eclesial que mudou e que se espera (desesperadamente!) que mude, para bem das almas e do Reino. Nesta gente concreta há um trauma moral mais forte, melhor ou pior sofrido. Um padre, por exemplo, que recebe uma carta do seu bispo para uma conversa presencial e que se coloca ao telefone horas infindas a lê-la com ditos amigos e a comentá-la, está, de facto, num dilema angustiante e de grande perturbação psicológica...

          As pessoas apegam-se ao seu mundo, às suas circunstâncias, às suas realizações. Por vezes ao seu autismo não assumido. E largar esse mundo para navegar noutro rumo, com outra tripulação desconhecida, noutras águas ignoradas, com muitíssimo menos dinheiro para gerir (-se), faz pensar e faz sofrer. São Paulo bem soube dizer: sei viver com muito e outras vezes com muito pouco... E quando se anda de arrasto com um montão de recortes exorbitante catalogados e  encaixotados e/ou dispersos por tudo o que é canto, fruto de milhares de horas de trabalho doentio! De facto custa, custa muito fazer as malas!!

          O primeiro sofrimento é o do desligar daquilo em que se deixou a alma. A obra que se construiu ou aperfeiçoou com incomensurável sacrifício (e que por vezes, não reconhecida, nem lembrada, nem fica escrita para memória futura!), o rebanho que se apascentou com amor (e não há como o primeiro amor!), os sonhos concretizados. Mas há, por vezes o reverso da medalha, isto é, a destruição completa de uma comunidade cristã que todos observam, comentam, preocupados, exacerbados, desiludidos, impacientes, frustrados, malcriados, iludidos outros, coniventes ainda outros porque interesseiros,...  Todos apreciam negativamente e concluem assim, menos aquele que está na berlinda. E que pensará o pai na fé?!

          Pouca gente se lembra daquela cena do filme D. Camilo. Transferido para outra paróquia, D. Camilo, na hora da despedida, com a mala na mão, vai caminhando lentamente pela igreja abaixo, olhando para trás com saudade: para o seu crucifixo, para o sacrário, para o altar, para os confessionários, para o baptistério, para as paredes, e, já na rua, lança um olhar derradeiro para o seu pequeno templo, com as lágrimas nos olhos, porque lhe borbulhavam fortemente no coração... D. Camilo era uma alma lavada! Sem apegos mundanos, nunca se considerou um pároco príncipe da Igreja...

          Tirando os casos em que é uma esmola um padre sair da paróquia, acontece com toda a gente que parte, — bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos — deixando para trás o seu esforço, seu suor, seu sangue, sua vida imolada que só o Padre Eterno sabe...

          Começar uma vida nova... Esta incerteza pode angustiar: mas a generosidade em servir é o segredo da alegria do êxito da sementeira...

          Vá lá senhor bispo: ou agora ou nunca!!

          Será impossível o futuro ser pior!

          Todos os que o rodeiam como conselheiros têm sido sinceros e práticos.

          Ámen.

          (Enfim, desabafos, como diz a minha sobrinha Sandra Lopes Amaral)

         

P.S. Não ficarei por aqui. A saga (ou será novela?!) continua e, claro!... qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência. Não vá o diabo tecê-las e vira-se o feitiço...

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