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Dois homens passeavam lentamente por uma rua de uma cidade da Alemanha. Um alemão, bem vestido, habituado ao movimento superbarulhento citadino de carros e outros ruídos indecifráveis e que põem os nervos em franja de dia e de noite.
O outro homem era um indiano, de pés quase descalços, vestindo um sari colorido e simples.
Caminhavam, conversavam, observavam...
De repente, o indiano disse para o companheiro: — Estou a ouvir um passarinho a cantar!
— É lá possível ouvir um passarinho neste burburinho da cidade — respondeu o alemão.
Continuaram a andar e a certa altura o alemão ouviu um ruído qualquer e disse, olhando para o pavimento: — Ouvi cair uma moeda!
Não era moeda nenhuma. Habituado a pensar em dinheiro, só em negócios e dinheiro, todo o ruído lhe parecia o cair de uma moeda no chão.
Mas o indiano, habituado a ouvir o murmúrio das florestas e o canto simples dos pássaros, tudo lhe parecia o cantar das avezitas na sua terra.
(Que saudades e bem-estar ao acordar no Porto Novo de São Mateus do Pico, ao chilrear afinado de melros, canários, tentilões... Em Taizé, pequeníssima aldeia no sul da Borgonha, na França, no meio de uma colina com imensos bosques, os pássaros eram outros mas a sensação de paz era a mesma, neste início de Agosto!...)
O indiano disse então ao alemão: Vós estais materializados. Os vossos ouvidos, os vossos olhos, os vossos sentidos, estão fechados para a beleza, para as coisas simples. Viveis fascinados pelo dinheiro — pelos negócios, pela bolsa, só por aquilo que produz riqueza. Tudo vos parece dinheiro a cair perto de vós e a não perder...
A quanta gente se pode aplicar esta resposta do indiano. Gente que perdeu a sensibilidade para apreciar os valores das pessoas quer de sua casa, quer do seu mundo profissional ou social, que não tem tempo para dialogar, para ouvir os outros, para se encantar com a beleza que a rodeia, gente que a febre do dinheiro a estonteia, de dia e de noite, tudo lhe parecendo tilintar de moedas...
Dois homens diferentes: um que encontra a sua felicidade nas coisas simples. Outro materializado, para quem existe apenas um único valor no mundo acima de todas as coisas: o dinheiro.