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Perto da igreja, havia uma oficina onde o ferreiro labutava de sol a sol dando ao fole, deitando carvão ao fogo, batendo o ferro na bigorna.
Um dia, conta Catulo da Paixão Cearense, autor do célebre Luar do Sertão, um minúsculo floco da forja saindo numa nuvem escura de fumo encontrou-se com um outro minúsculo floco de incenso que, saído da igreja, pairava no ar, numa nuvem ténue e perfumada. Ao ver-se invadida por aquela conspurcada nuvem da forja do ferreiro, o minúsculo floco de incenso disse:
Afasta-te de mim, profano fumo. Não me venhas conspurcar! Não manches a minha candura!
Ao que o floco saído da forja do ferreiro respondeu:
Eu venho do turíbulo do malho.
Se estou suja é do incenso do trabalho,
e a minha negridão não me escurece.
Eu sei que sou profana e sou da forja,
mas se vens de um altar, eu venho duma forja,
a forja é também um altar,
e o trabalho é uma prece.
Esta pequena parábola vem-nos dizer que o trabalho também se pode transformar em oração e louvor quando feito com amor. A oração na igreja deve transformar-se na oração de todas as horas do dia.
Não é só nos genuflexórios do templo que se fazem belas orações. Elas podem fazer-se também, na oficina, no escritório, pelos caminhos...